O espaço sideral. Aquele lugar que imaginamos vazio, sem ar, onde repousam suavemente os corpos celestes. Imenso. Capaz de tirar o folego até do mais experiente astronauta pela sua estupenda vastidão… Onde ele fica? Onde começa?
Lá em cima, ora! Bem no alto, muito distante de onde vivemos. É… Você está indo bem até dizer isso. Acredite: aquele abismo interminável e mortal que chamamos espaço está muito mais perto do que você gostaria.
Subindo de carro
Leva cerca de uma hora, de carro, para você ir até aquela praia, aquela cidade, aquele lugar a meros 100 quilômetros da porta da sua casa. Muitos trafegam bem mais que isso em suas cidades, a cada semana. Andar sobre a superfície da Terra é o que fazemos. Somos seres bidimensionais.
Agora imagine poder dirigir para cima, na vertical, o mesmo tanto que trafegamos no chão. Em menos de um minuto você estaria atravessando o reino das nuvens. E, subindo, a temperatura cai rápido, ainda que você esteja em pleno sertão.
Ir na direção do Sol nem adianta, porque o que aquece o ar à sua volta é o calor irradiado do terreno. Com o chão distante, o ar fica gélido como no Himalaia. Aliás, uma altura equivalente ao cume do Everest você atingiria mais rápido do que o tempo que gasta para pegar os filhos na escola. E isso dirigindo na mesma velocidade média de sempre.
Mas seria uma viagem impossível de fazer com os vidros abertos. Além da temperatura nada agradável, subir também nos lembra que a maior parte do precioso ar que respiramos fica lá embaixo. O ar tem peso e a gravidade o mantém concentrado perto do chão. De carro, sem pressa, sempre subindo, não demora até você se dar conta que não poderia continuar respirando a apenas a alguns minutinhos acima.
Linha de Kármán
Mesmo assim, não é fácil de determinar onde o espaço começa de verdade. Isso porque a atmosfera não termina abruptamente. O ar vai ficando rarefeito aos poucos, e mesmo numa altitude em que a maioria dos animais já teria sufocado, ainda há moléculas gasosas o bastante para oferecer um forte arrasto no que quer que ouse voar rápido por ali.
Foi por isso que um engenheiro e físico húngaro-americano, de nome Theodore von Kármán, pensou que uma forma de encontrar essa fronteira invisível era calcular a altitude onde a densidade da atmosfera ficava tão baixa que qualquer veículo teria que se deslocar a velocidades maiores que a velocidade orbital, se quisesse se manter voando.
Em termos práticos, isso significa voar a mais de 24 mil km/h para conseguir sustentação aerodinâmica. A FAI (Federação Aeronáutica Internacional) usa o que ficou conhecido como Linha de Kármán para definir os limites entre aeronáutica e astronáutica, a fronteira entre o reino dos pilotos e dos astronautas. Um linha imaginária que fica a 100 km acima do nível do mar ─ onde as auroras começam a se exibir.
ABERTO PARA NEGÓCIOS Os astronautas da missão Inspiration4, da empresa SpaceX, não são os , mas sim a primeira tripulação composta apenas por cidadãos da iniciativa privada. Eles foram mais alto que o apogeu da ISS.
Espaço exterior
Então o espaço começa onde nossa atmosfera termina? Se pensarmos assim, então será além das camadas mais externas, a termosfera e a exosfera, que podem atingir 10 mil quilômetros de altitude. Dessa forma, nem a ISS estaria no espaço!
As definições variam. A Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos considera que o espaço exterior começa a partir dos 80 km de altitude. Já o Centro de Controle de Missão da NASA prefere situar essa fronteira em 122 km de altitude, a referência do ponto de reentrada de uma espaçonave, além da qual há um aumento repentino da temperatura. É quando a radiação solar passa a ter mais influência.
Por que isso é tão importante? Tratados internacionais definem o espaço como uma região livre para uso e exploração por todos ─ o que não acontece com o espaço aéreo. É possível operar um veículo, tripulado ou não, acima de qualquer país, desde que ele esteja no espaço. Voar sem autorização em altitude inferior pode ser interpretado como violação do espaço aéreo. Uma agressão.
Com empresas de turismo espacial cada vez mais perto desse limite, o debate deve se intensificar ainda mais. Mas é um tema político também. Portanto, não vai ser fácil chegar a um acordo. Por hora, a Linha de Kármán (100 km) tem dado conta.
E a questão não é entrar em órbita, apenas atingir essa altitude. Por isso, são considerados astronautas tanto o soviético Yuri Gagarin (voo orbital com apogeu de 327 km em abril de 1961), quanto o americano Alan Shepard (voo suborbital com apogeu de 187 km em maio de 1961) ou a enfermeira Hayley Arceneaux (575 km a bordo da cápsula Dragon, em setembro de 2021).
É tudo uma questão do quanto você sobe nesta vida. Literalmente.
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