As chances são de uma em duzentos e cinquenta mil. É um palpite e tanto, mas nunca se sabe. Em julho de 2002 astrônomos descobriram o asteroide 2002 NT7, uma rocha com 2 quilômetros de extensão e uma curiosa órbita.
Ao contrário da maioria dos outros asteroides, que circundam o Sol mais ou menos no mesmo plano dos planetas, 2002 NT7 segue sua trajetória de 837 dias numa órbita inclinada em 42 graus. A maior parte do tempo ele está acima ou abaixo do plano dos planetas, mas a cada 2,29 anos ele passa de um lado para o outro, eventualmente intrometendo-se no caminho da Terra. É aí que está o perigo.
Depois de segui-lo por alguns dias, alguns pesquisadores encontraram uma chance em duzentos e cinquenta mil desse asteroide atingir a Terra em 2019. As chances são incertas. O objeto foi seguido por apenas 17 dias e predições mais confiáveis requerem mais observações.
O programa da NASA que patrulha objetos perigosos nas vizinhanças da Terra (ou NEO, abreviatura de Near Earth Object) deu a 2002 NT7 a classificação “1” na escala Torino (gravura a seguir), que vai de zero a dez e avalia o risco potencial desses objetos. Isso significa que este asteroide deve continuar sendo monitorado, mas não merece grande preocupação.
Já virou rotina: astrônomos descobrem um novo asteroide. Com os dados disponíveis calculam uma pequena chance de colisão no futuro. O fato chama a atenção de outros observadores (e deveria convencer as autoridades de que um programa de patrulhamento celeste deve ser levado a sério); mas quem faz alarde é a mídia. Finalmente, com novas observações, as chances apresentam um declínio, afastando a possibilidade de impacto. E muitas vezes fazendo crer que o perigo não existe, que nunca vai acontecer (um erro que pode ser fatal).
Aliás, da próxima vez que você tomar conhecimento de notícias como “Asteroide assassino ameaça a Terra” procure saber se o objeto tem sido rastreado há apenas uma ou duas semanas. Atente também para as chances de impacto.
Mas e se com novas observações 2002 NT7 (ou outro NEO) subir na escala? Se as chances em vez de diminuírem fizerem “acender a luz vermelha?” O que poderíamos fazer na iminência de um impacto dessa magnitude? Poderíamos evitá-lo?
Atualmente não há nenhum plano para responder a uma emergência como essa. Muitas foram as propostas para interceptar, desviar ou destruir um asteroide em curso de colisão real com a Terra. Mas somente um programa de monitoramento (que precisa de mais recursos para continuar funcionando) foi implementado.
E se…
Apesar das chances serem reduzidas, se 2002 NT7 colidisse com o nosso planeta ele o faria a cerca de 28 km/s, o bastante para causar destruição em massa no local de impacto, proporcionar uma mudança no clima global e gerar tsunamis (ondas gigantes) com potencial de destruição nunca vistos.
A aproximação de um objeto potencialmente perigoso nem sempre pode ser antecipada em anos. Recentemente uma rocha do tamanho de um campo de futebol passou a menos de um terço da distância Terra – Lua.
O objeto aproximou-se contra a luz do Sol e só foi percebido quando estava indo embora. Se nos pegasse de surpresa, seria como a explosão de uma bomba nuclear de grande porte (sem os efeitos da radiação).
É importante que se continue monitorando e rastreando esses objetos. O que tem sido feito não é o bastante e foi por isso que a Sociedade Planetária criou o programa Gene Shoemaker NEO Grants, inclusive oferecendo prêmios as observações relevantes feitas por astrônomos amadores, cuja colaboração é muito importante.
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