Impossível dizer quando tudo começou. Talvez tenha sido ao despertar da consciência. Quando aquele enorme disco prateado, suspenso no vazio, provocou um sentimento novo – uma espécie de êxtase. Dessa vez não era medo. Quem sabe um sonho, um desafio. Quando, ao certo, nunca saberemos.
Mas é certo que em algum momento da existência humana fomos possuídos por uma sensação poderosa. Um devaneio insano de que podíamos explorar a Lua e além. Não fosse isso e talvez jamais tivéssemos passado de um pequeno bando de animais encolhidos em cavernas, num canto qualquer do planeta.
Como a Astronomia, a Astronáutica, a arte e técnica de navegar o firmamento, surgiu ao contemplarmos o céu. Durante o dia invejávamos a liberdade dos pássaros. Queríamos estar com eles, por entre as nuvens.
À noite ansiávamos tocar a Lua, atravessar o manto escuro e vislumbrar o mecanismo dos astros, a música das esferas. Por milênios este foi somente um sonho da humanidade. Cada um de nós, hoje, vive o instante de graça que nossos antepassados desejaram.
ASTRONÁUTICA, a arte e técnica de navegar o firmamento.
Montagem adaptada da revista Understanding Space, de Jerry Jon Sellers.
Sonhando alto
As histórias desses viajantes imaginários ESTÃO POR TODA A PARTE. Um documento com mais de cinco mil anos narra a façanha do rei Ethan, que ascendeu aos céus. Fato comum em todas as religiões da Terra.
Heródoto, um historiador da Grécia antiga, mencionava que seus patrícios cavalgavam águias, estimuladas por iscas frescas. O grego Luciano de Samósata contava que após atravessar as Colunas de Hércules – atual Estreito de Gibraltar – o barco em que navegava foi erguido por uma gigantesca tromba d’água, e depois de vários dias de viagem celeste, atracou numa grande e brilhante ilha: a Lua!
Em “Somnium” (Sonho, séc. XVII) Johannes Kepler imaginou uma viagem à Lua, descrevendo duas espécies de habitantes.
Os subvolves viviam na face lunar sempre voltada para a Terra e os privolves, habitantes do lado oculto, costumavam fazer grandes caminhadas rumo à outra face, de onde podiam contemplar o adorável planeta Terra. Kepler também deduziu que as crateras lunares eram construções artificiais, antecipando a controvérsia dos canais marcianos.
Em “Os Primeiros Homens na Lua” de H. G. Wells, o professor Cavor e seu assistente chegam à Lua graças a um veículo recoberto por uma substância antigravitacional chamada cavorita.
Mas na divertida “Viagem à Lua” de Cyrano de Bergerac, os personagens não são pioneiros. Um outro viajante terrestre teria alcançado antes o satélite, viajando num globo de ferro impulsionado por um enorme ímã preso a sua frente!
Por fim, talvez a mais fascinante entre todas essas aventuras seja aquela escrita em 1865 por Júlio Verne. Em “De la Terre à la Lune” Ardan, Barbicane e Nicholl viajam no interior de uma cápsula disparada de um monumental canhão na Flórida, quase no mesmo lugar em que partiriam os três astronautas americanos.
VIDA IMITA A ARTE À direita, os heróis de Verne regressam à Terra. Ao lado, a chegada dos astronautas da Apollo 11.
Os heróis experimentam a sensação de falta de peso e ficam em órbita lunar, chegando a traçar um mapa do mar da Tranquilidade, onde Armstrong e Aldrin fariam seu passeio 104 anos depois. Finalmente, ambas as cápsulas voltam à Terra, caindo no oceano Pacífico. Em nenhum outro livro Verne foi tão desconcertantemente profético.
+ Os pioneiros
+ Missões espaciais