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Astronomia no Zênite
Astronáutica - Os pioneiros

Missão Soyuz 1 – 2ª Parte

 Final

A pressão política era enorme. Já passavam quase dois anos desde a última missão tripulada soviética. Neste tempo os Estados Unidos tinham lançado dez Gemini e ultrapassado todos os feitos soviéticos no espaço. Entretanto, aproximava-se uma data importante no calendário soviético, o 1º de Maio, e o voo da primeira Soyuz tripulada poderia coincidir com esta festividade.

Nos primeiros meses de 1967 as discussões em torno da preparação da primeira missão tripulada aumentaram e com isso surgiam rumores de mais um feito espacial espetacular da União Soviética.

A primeira missão do novo programa soviético seria um voo tripulado duplo no qual, após a acoplagem entre os dois veículos em órbita, seria feita uma transferência entre os cosmonautas pelo lado de fora das cápsulas.

Um herói chamado Komarov

A Soyuz 1 foi tripulada pelo cosmonauta Vladimir M. Komarov. Seu lançamento em 23 de abril de 1967. A Soyuz 2 seria lançada no dia seguinte, no instante em que a Soyuz 1 estaria sobrevoando Baikonur.

Mas de acordo com os primeiros dados enviados os problemas com a Soyuz 1 começaram mal entrou em órbita terrestre. Um dos painéis solares não se abriu, diminuindo o fluxo de energia requerido por alguns dos sistemas.

A antena auxiliar do sistema de telemetria também estava inoperante e o sistema de controle de atitude (inclinação) fora contaminado pelos gases dos motores da Soyuz. O problema com a antena suplente era um mal menor, mas falhas no controle de atitude eram preocupantes.

Vladimir Komarov
Vladimir Mikhailovich Komarov (*16/03/1924 †24/04/1967).

Komarov não tinha como alterar os parâmetros orbitais, o que impossibilitava a tão sonhada acoplagem com a Soyuz 2. Dizem que Komarov tentou até chutar a fuselagem pelo lado de dentro da Soyuz, numa tentativa desesperada para liberar o painel solar.

Situação dramática

Mas a situação piorava a cada minuto. Como a cápsula não fora capaz de se orientar em relação ao Sol a energia disponível estava muito abaixo do normal. Todos os sistemas elétricos não necessários foram desligados, pois o veículo só conseguiria operar nestas condições por menos de 24 horas – o que tornava impossível uma acoplagem no terceiro dia.

Apesar dos problemas, o controle de voo acreditava que tudo voltaria à normalidade. Assim, foi ordenada a preparação para o lançamento da Soyuz 2 apesar das recomendações pelo seu adiamento.

Ouviram-se sugestões de que os cosmonautas que iriam realizar a caminhada espacial poderiam libertar o painel solar da Soyuz 1. Mas o lançamento da Soyuz 2 seria cancelado horas mais tarde.

Komarov tentou orientar a cápsula manualmente, mas descobriu que era uma tarefa quase impossível, pois teria que encontrar um ponto fixo sobre a Terra (e a cápsula girava várias vezes em torno de si mesma a cada órbita). Pior ainda: qualquer orientação que fizesse era sempre anulada pelo sistema de controle da Soyuz.

PATRONO
Urania Planetario

Da 7ª até a 13ª órbita, Komarov esteve fora de contato com as estações de controle terrestre e não conseguiu resolver os problemas da cápsula.

A Soyuz 1 tinha três sistemas de orientação. Se todos falhassem não seria possível fazê-la regressar a Terra. Se a cápsula iniciasse a reentrada numa atitude incorreta, arderia na atmosfera ou então terminaria numa órbita ainda mais alta.

O sistema de orientação iônica já falhara duas vezes e o regresso não se poderia realizar pela manhã, pois a presença de bolsas iônicas iriam confundir os sensores. O sistema de orientação solar e estelar estava totalmente inoperante. A orientação manual acabou sendo a única saída.

No entanto, Komarov informou ao controle de voo que era quase impossível localizar o horizonte terrestre na parte noturna da órbita. O tempo estava ficando escasso.

Eram 23h e 56min de 23 de abril quando Komarov iniciou tentou uma reentrada. Ele logo percebeu que os parâmetros orbitais permaneciam os mesmos. A cápsula entrara numa bolsa iónica que confundiu os sensores e o sistema de controle anulou o regresso. Nada mais restava senão a orientação manual.

O motor de regresso da Soyuz 1 foi acionado às 02h e 57min (UTC) de 24 de abril e permaneceu em funcionamento durante pouco mais de dois minutos. Komarov tinha iniciado uma reentrada balística na atmosfera.

EM VÍDEO  Resumo (em inglês) da trágica história da Soyuz 1.

Sem esperanças

Testemunhas relataram ter visto a cápsula despencar do céu arrastando seu paraquedas sem que ele se enchesse de ar. A equipe de resgate relatou ter visto a Soyuz 1 tombada num campo verdejante ao lado do seu paraquedas ─ e de repente os motores de aterrissagem começaram a funcionar.


TRAGÉDIA  Aspecto do local de impacto da Soyuz-1. É visível o escudo térmico da nave do lado esquerdo, parte do paraquedas à direita e a escotilha de acesso ao centro.

Os especialistas estavam atônitos: os motores deveriam funcionar imediatamente antes da aterrissagem e não com a cápsula no chão. Os destroços da Soyuz 1 arderam por horas antes que os bombeiros conseguissem extinguir o fogo e retirar o corpo de Komarov.

A Soyuz havia atingido o solo em altíssima velocidade e os foguetes de aterrissagem explodiram após o impacto, criando o incêndio. A principal razão do desastre foi devido à fricção entre o paraquedas e as paredes interiores do seu próprio compartimento. O aumento de pressão em relação à pressão externa fez com que o paraquedas ficasse preso.

A missão havia durado 26h, 47min e 52s. Quando o primeiro helicóptero de resgate aterrissou a Soyuz estava envolta numa densa fumaça negra. O fogo era intenso. A base da cápsula tinha desaparecido.

O metal derretido caia no chão enquanto as equipes de socorro tentavam extinguir o fogo com terra e os extintores de espuma. Encontrar o corpo de Komarov entre os destroços foi uma tarefa árdua. Ela ainda estava no assento, por baixo do painel de controle da cápsula.

A agência TASS anunciou, 12 horas depois da catástrofe, que a missão tinha decorrido sem problemas até o regresso, ocasião em que um problema com o paraquedas fez com que a cápsula se esmagasse no solo.

Os restos mortais de Komarov foram enterrados nas paredes do Kremlin. Porém, um grupo de Jovens Pioneiros (o equivalente soviético dos Escoteiros) descobriu mais restos no local do impacto, que acabaram sendo enterrados no próprio local da tragédia.

Monumento no local da queda da Soyuz 1
MONUMENTO no local da queda da Soyuz 1, onde também estão parte dos restos mortais de Komarov. Veja no Google Maps.

A Soyuz havia atingido o solo a uma velocidade entre 35 e 40 metros por segundo. O escudo térmico nunca se separou da cápsula e os foguetes de aterrissagem explodiram após o impacto, criando o incêndio.

A principal razão do desastre foi devido à fricção entre o paraquedas e as paredes interiores do próprio contentor. O aumento de pressão do contentor em relação à pressão externa fez com que o paraquedas ficasse preso.

Após vários exames na Soyuz 2 constatou-se que, caso ela tivesse decolado, seus ocupantes também teriam morte certa no regresso, pois o paraquedas apresentava o mesmo problema.

A morte de Komarov foi um choque para todo o programa espacial soviético. O acidente provocou uma parada imediata de quase todos os projetos e pôs fim as esperanças de um voo lunar tripulado. Artigo de Astronomia no Zênite

 

Os pioneiros
Soyuz 1 – Encyclopedia Astronautica 

Créditos: Costa, J.R.V. Missão Soyuz 1 - 2ª Parte (Final). Astronomia no Zênite, jul. 2007. Disponível em: <https://zenite.nu/missao-soyuz-1-2>. Acesso em: 21 nov. 2024.
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