Finalmente, em 21 de fevereiro, e após anos de testes e alterações no desenho original, tudo estava pronto para o lançamento inaugural do gigantesco N1. O veículo 3L voou 66s quando um incêndio no primeiro estágio ativou o sistema de emergência que retirou a cápsula L1 do lançador, que foi destruído pelo controle de voo.
Em 3 de julho de 1969, 13 dias antes da Apollo 11, deu-se o lançamento do segundo N1. Mas os resultados deste lançamento seriam ainda piores. Nove segundos após a ignição, e a 200 metros do solo, ocorre uma explosão num dos motores.
O lançador cai sobre a plataforma de lançamento, que é completamente destruída por uma gigantesca explosão que provoca também estragos na plataforma nº 2, a 500 metros, e no modelo do N1 que ali se encontrava.
A CIA logo teve conhecimento do desastre do N1-5L através de imagens de satélite como esta, onde ficam evidentes os consideráveis danos provocados pela explosão do foguete sobre a plataforma de lançamento. Clique na imagem para ampliar.
A derradeira esperança soviética viajava com a Luna 15, lançada em 13 de julho. Ela deveria regressar à Terra com amostras do solo lunar antes dos americanos.
Mas no dia 16 de julho de 1969 era lançada a Apollo 11 e os astronautas Neil Alden Armstrong e Edwin Eugene Aldrin tornam-se os primeiros seres humanos a caminhar na superfície de um outro mundo. O sistema de alunissagem da Luna 15 falha e a sonda se despedaça… a União Soviética perdera a corrida para a Lua.
Depois da Lua
Humilhados no regresso da Apollo 11, os soviéticos viviam uma época onde tudo parecia correr mal, bem ao contrário dos primeiros anos da Corrida Espacial. O N1 encontrou-se à beira do abismo quando se tornou evidente que seriam necessários dois anos para reparar a plataforma destruída no último lançamento.
No entanto a influência de Mishin junto dos dirigentes soviéticos ainda era forte e foi ordenado que preparasse um programa lunar mais avançado. Se os soviéticos não foram os primeiros na Lua, então seriam os melhores.
Após mais três fracassos, a Luna 16, lançada em 12 de setembro de 1970 torna-se a primeira sonda a regressar à Terra com algumas gramas de solo do Mar da Fertilidade.
Em seguida seria a vez da Luna 17, lançada em 10 de outubro de 1970, e que colocou na Lua o primeiro veículo automático, o Lunakhod-1, que funcionou durante nove meses e percorreu quase 11 km.
Continuando a negar a existência do programa de exploração tripulado da superfície lunar, a União Soviética declarava agora que o seu programa de exploração automática lunar era muito menos dispendioso e menos arriscado do que o programa Apollo.
O fim do caminho
Tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, os programas lunares tripulados terminaram em 1973. A missão Apollo 17 fora a última missão Apollo em Dezembro de 1972 (os voos da Apollo 18, Apollo 19 e Apollo 20, há muito que haviam sido cancelados como forma de economizar fundos e porque a opinião pública já não prestava atenção aos voos lunares).
As sondas Luna conseguiram alguns feitos importantes: a 28 de setembro de 1971 é lançada a Luna 19, que traz amostras do solo lunar. Em 8 de janeiro de 1973 é lançada a Luna 21, que colocava na superfície lunar o segundo veículo Lunakhod. Em 29 de maio de 1974 era lançada a última sonda, Luna 22.
Mishin ainda prosseguia com os seus planos e dois novos N1 foram construídos. O veículo 8L deveria ser lançado em agosto de 1974 e o veículo 9L no final desse mesmo ano. Se essas missões fossem bem sucedidas, o veículo 10L deveria ser usado para colocar o primeiro cosmonauta na Lua.
O módulo lunar LK seria utilizado para transportar um único cosmonauta até à superfície lunar. Tal como o americano, o cosmonauta permaneceria de pé durante a descida até à superfície.
Mas os planos nunca se concretizaram. À medida que os fracassos iam surgindo, a pressão e as críticas sobre Mishin iam subindo de tom. Em Maio de 1974, Valentin Glushko, rival de Korolev, toma o lugar de Mishin. Glushko de imediato suspende o programa lunar de Mishin e apresenta o seu plano para uma colônia lunar.
O POUSO soviético na Lua que nunca aconteceu. Concepção artística.
No período de 1974 a 1976 desenvolve o projeto de um novo lançador pesado, o Vulkan, que usaria oxigênio e hidrogênio líquidos como combustíveis, tal como Korolev pretendia em 1962.
Glushko planejou também um novo rover lunar capaz de transportar cosmonautas através da superfície da Lua. Mas nem o governo nem os militares soviéticos estavam interessados nos planos de Glushko, considerando o ônibus espacial americano como uma ameaça maior.
É desta forma que Glushko é destacado para desenvolver o projeto do lançador Energiya a partir do Vulkan, e que seria usado para lançar o ônibus espacial soviético e outras cargas pesadas. A última sonda lunar soviética, a Luna 24, seria lançada no dia 9 de agosto de 1976.
Conclusões
Se o N1 tivesse sido bem sucedido os foguetes provavelmente teriam se chamado Lenin ou Kommunism, mas o projeto desapareceu quase sem deixar vestígios.
Peças dos foguetes foram utilizadas na construção de edifícios, armazéns e hangares no Cosmódromo de Baikonur. As plataformas de lançamento e os veículos de integração e transporte foram utilizadas com os foguetes Energiya, e agora apodrecem em Baikonur.
No Programa Apollo foram gastos 24 bilhões de dólares, enquanto que os programas L1 e L3 somente receberam 4,5 bilhões de dólares.
O programa lunar foi vítima da falta de cooperação entre diferentes centros de desenvolvimento, da deficiente avaliação da importância do desafio do presidente Kennedy, e das tremendas dificuldades técnicas que envolvem o envio de seres humanos à Lua.
A falta de exaustivos testes no solo e a fraca gestão entre as mais de 500 companhias e os 26 centros governamentais de desenvolvimento espacial, contribuíram decididamente para o fracasso.
A principal razão técnica para o fracasso do N1 deve-se à incapacidade de atingir uma boa confiabilidade e estabilidade entre os 30 motores do seu primeiro estágio.
A União Soviética perde a corrida para a Lua porque avaliou mal as intenções e os recursos dos Estados Unidos, mobilizou os seus próprios esforços demasiado tarde e falhou no controle das diferentes escolas de desenhadores, projetistas e construtores de foguetes e veículos espaciais.
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