Certa vez, uma estudante de Itajubá (MG) nos solicitou uma entrevista com um astrônomo profissional. Ela e sua equipe elaboraram dez perguntas que enviamos para o nosso colega Leandro Guedes, da Fundação Planetário da cidade do Rio de Janeiro.
A seguir compartilhamos com todos as respostas dele. Esperamos que essa pequena entrevista inspire outros jovens que também se interessam pela Astronomia. Ou pela Biologia, pela Matemática, a Química… E todas as outras formas de fazer e se apaixonar por Ciência, suas linguagens e metodologias.
Para conhecermos mais sobre nós mesmos. Quando olhamos para o Universo e procuramos conhecer como ele surgiu e o que acontecerá em seu futuro, estamos fazendo perguntas sobre nós mesmos: de onde viemos? Qual nossa condição agora? Para onde vamos?
Para te dar um exemplo de como a Astronomia foi importante na história da humanidade em moldar como nos posicionamos e, logo, como nos construímos como seres sociais, se não tivéssemos mostrado de forma irrefutável que a Terra não é o centro do Universo, ainda estaríamos fazendo tudo sob o domínio intelectual da Igreja medieval.
A resposta mais honesta para essa pergunta é: porque Astronomia é muito legal. Não sei exatamente o que aconteceu na minha infância que me levou a isso, mas desde que eu me lembro, queria estudar Astronomia.
Lembro-me de quando era criança e não conseguia entender como alguns adultos podiam viver sem se preocupar em saber coisas como porque as árvores crescem, porque a água muda de estado com a temperatura ou porque as estrelas brilham… Na minha cabeça de criança, a única coisa que fazia sentido era todo mundo ser cientista de alguma área.
Você pode fazer uma graduação em Astronomia (no Brasil, atualmente oferecida apenas na UFRJ e USP), ou algum outro curso que lhe permita fazer uma pós-graduação em Astronomia.
Mesmo que faça a graduação em Astronomia, a pós-graduação é uma necessidade porque é onde você vai refinar os conhecimentos adquiridos e ter uma área definida de atuação. Durante a pós-graduação você é um astrônomo e vai trabalhar em algum grupo de pesquisa.
Eu trabalho no Planetário do Rio e divido meu tempo entre pesquisa e atividades de divulgação, ou comunicação científica. A pesquisa consiste em coletar dados (fazendo observação em telescópios ou analisando dados).
Uma coisa que está aparentemente fora da Astronomia: a existência da consciência. Tudo no Universo parece acontecer de forma mecânica, obedecendo a leis físicas e químicas que podemos traduzir de forma matemática.
Apesar das medidas terem sempre uma margem de erro, podemos dizer que essas leis são precisas. Mas me parece muito impressionante existir a consciência que evoluiu até a nossa capacidade de buscar conhecer o próprio Universo.
Acho perfeitamente viável e inevitável. A chegada do homem a Marte é apenas questão de tempo. Mas é bom lembrar que ela não significa, de maneira nenhuma, o início da colonização do planeta.
Pensou-se em algo desse tipo quando o Homem foi à Lua. Outra coisa que devemos ter em mente é que as missões espaciais têm um objetivo e um prazo para serem realizadas porque custam muito caro.
Viagens interestelares ainda estão num campo fora do realizável, e não conseguimos sequer pensar numa forma de tornar isso realidade com o desenvolvimento de alguma tecnologia nova ou existente.
A natureza nos mostra que não é possível construir uma nave que viaja na velocidade da luz. Isso não é uma questão tecnológica, é uma questão de possibilidade na natureza. Não é possível viajar na velocidade da luz da mesma forma que não é possível fazer coisas como desligar a gravidade, não importa sua tecnologia. E as distâncias interestelares implicariam em viagens de centenas ou milhares de anos, mesmo em altíssimas velocidades. Por isso não existe um projeto viável de realizar tais viagens.
Porque não há motivo para isso. O projeto Apollo, que levou astronautas à Lua, aconteceu como manobra estratégica durante um período da História conhecido como Guerra Fria, quando havia os Estados Unidos da América e a União Soviética como grandes potências antagônicas defendendo a supremacia, respectivamente do capitalismo e do comunismo.
Era chamada “fria” porque era uma guerra sem soldados, sem tiros. Era uma guerra ideológica e de demonstração de superioridade em diversas áreas como política, economia, sociologia e áreas tecnológicas. Incluía-se aí a chamada Corrida Espacial, e os russos já tinham saído muito na frente, mas não haviam levado o homem à Lua.
Os Estados Unidos fizeram isso. Mas perceba que o objetivo não foi em momento algum científico. A ciência tomou carona e nos beneficiamos muito do projeto Apollo, mas todas as medidas, instrumentos levados e pedras trazidas constituem tarefas que poderiam ter sido realizadas por robôs.
Hoje não há uma razão semelhante para retomar as missões tripuladas à Lua. Existem iniciativas como a do Google, por exemplo, que elaborou um projeto que busca incentivar estudantes a construírem pequenos veículos controlados remotamente para serem enviados à Lua e realizarem uma pequena pesquisa de campo. O objetivo aqui é o marketing para a empresa. Enquanto não houver um motivo forte que justifique o investimento em uma nova missão tripulada à Lua, ela não acontecerá.
A matéria escura é algo que atua na escala das galáxias e dos aglomerados de galáxias. A hipótese da existência da matéria escura surgiu para explicar efeitos gravitacionais que não podiam ser explicados apenas pela massa da matéria visível pelos telescópios.
Assim, ou nossas observações não estão boas e não estamos conseguindo estimar bem as massas pela luz que recebemos do Universo, ou existe por aí um tipo de matéria invisível que só interage com a matéria normal gravitacionalmente.
Não conhecemos sua natureza, mas se ela realmente existe, faz parte do nosso Universo e conhecer sua composição é conhecer a composição de um tipo de matéria muito abundante no Universo.
Apesar de não existir um grande consenso sobre a existência da matéria escura, caso ela exista, desempenhou importante papel na formação das galáxias nos primórdios do Universo. Ou seja, ela ajudou a moldar o Universo como o conhecemos hoje.
Sobre o futuro do Universo, uma das informações mais importantes que precisamos ter é a massa total. Qual a massa do Universo? Essa resposta é fundamental para verificarmos qual vai ser o futuro do Universo e podermos dizer se ele deve voltar a se compactar, continuar expandindo até se esfriar ou se chegará a um tipo de equilíbrio em que vai parar de se expandir e tampouco vai se contrair. Conhecer a matéria escura é fundamental para sabermos a massa do Universo e, logo, podermos especular sobre seu futuro.
A energia escura não tem absolutamente nada a ver com matéria escura. Ela atua em grande escala no Universo, na escala dos superaglomerados e promove a expansão acelerada do Universo. O Universo está expandindo e essa expansão não está sendo freada pela gravidade da matéria contida no Universo. Ao contrário, a expansão parece estar sendo acelerada, cada vez mais rápido, e essa aceleração é promovida por uma energia desconhecida que chamamos de energia escura.
Siga em frente! É uma das profissões mais fascinantes do mundo e você terá material para se divertir (sim, se divertir!) por toda a vida.
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