Pergunte a um astrônomo: quantas constelações existem no céu? Oitenta e oito, será a resposta. Elas são agrupamentos imaginários de estrelas. Como aquele passatempo de juntar os pontos para formar um desenho.
Constelações são agrupamentos imaginários porque as estrelas não estão num mesmo plano, como acontece com os pontos no papel. É tudo uma ilusão! Também não podemos ver todas as 88 constelações do nosso quintal. Ainda que olhemos para o céu todas as noites restarão as constelações invisíveis…
Imagine uma formiga sobre uma bexiga, dessas que enchemos com sopro, pendurada por um cordão no teto de um salão de festas. Dali a formiguinha pode ver uma parte da decoração apenas olhando para cima.
Mas para ver onde está a mesa com o bolo e as guloseimas da festa, nossa amiga terá de sair do lugar, se deslocando sobre a superfície do balãozinho. Mesmo esperando que o balão gire ao sabor do vento, ela não consegue ver todos os cantos do salão.
A esfera celeste
Tudo se passa como se fossemos formigas sobre um balão enorme, tentando observar o que há lá fora. É como se estivéssemos num gigantesco salão de festas (grande mesmo!) com estrelas desenhadas pelo chão, paredes, no teto… Estrelas toda a parte!
Para mapear esse “salão” por inteiro (e todas as estrelas que foram salpicadas nele) temos que nos mover para outros lugares ou pedir ajuda de quem mora longe. Simplesmente não dá para ver tudo olhando de um só lugar. Mesmo esperando o tempo passar.
Numa analogia muito apropriada, diz-se que a Terra está no meio de uma esfera celeste (abaixo). As estrelas estão tão longe que parecem a uma mesma “distância infinita”, como se houvesse uma enorme esfera transparente em volta do mundo e as estrelas estivessem espalhadas sobre ela.
Constelações de outros países
O que podemos ver depende de onde estamos. O Brasil, por exemplo, ocupa uma área considerável no planeta, desde um pouco acima da linha do equador até quase 35° no hemisfério Sul.
De qualquer lugar do país vemos a constelação do Cruzeiro do Sul, que por isso mesmo é um dos símbolos nacionais. Assim mesmo ela fica a diferentes alturas do horizonte, dependendo se estamos mais próximos ou mais afastados da linha do equador.
DO SUL Constelação símbolo em diversos países austrais, o Cruzeiro está na bandeira, no hino e na moeda brasileira. Foto: Babak Tafreshi/National Geographic Society.
Pequenas (mas notáveis) mudanças no aspecto do céu noturno podem ser percebidas numa simples viagem de férias para as praias do Nordeste (ou para as belezas do Sul, se você mora no Nordeste).
Mas nenhum parisiense, nova-iorquino ou japonês consegue observar a pequena constelação do Cruzeiro do Sul de seu jardim. Ela nunca é visível desses países: é uma constelação invisível para eles.
Lá do hemisfério Norte se vê a constelação da Ursa Menor, onde há uma estrela chamada Polaris. Basta imaginar uma vertical de Polaris até o chão e ali estará o Norte geográfico. Polaris é a Estrela Polar.
Essa estrela nunca nasce ou se põe. Está sempre no céu indicando um rumo. E muitos viajantes do passado e do presente realmente a usam. Com paciência e atenção, dá para viajar por meio mundo se guiando só por ela.
VEJA o movimento que as constelações da Ursa Maior e Ursa Menor fazem no céu ao longo do ano, vistas do hemisfério Norte. Note como a Estrela Polar permanece imóvel. Visto do hemisfério Sul Polaris fica abaixo do horizonte e somente a Ursa Maior pode ser vista integralmente ─ e apenas em alguns meses do ano.
Mas Polaris não aparece no céu do hemisfério Sul. No Brasil, você teria de estar mais ao Norte que Macapá, no Amapá, a única capital cortada pela linha do Equador, e mesmo assim torcer para que nenhuma nuvem no horizonte lhe encobrisse a visão, pois Polaris estaria bem baixinho. Dos outros lugares nem pensar. Polaris é invisível para você.
Quem vive na região Norte e parte do Nordeste consegue ver outra constelação próxima, a Ursa Maior. Mas no Sudeste e no Sul, não. A Ursa Menor (onde está Polaris) é invisível ou apenas parcialmente visível.
Brasileiros em geral também não conseguem ver as constelações do Dragão, Cefeu e boa parte de Cassiopéia de suas casas.
Se não sairmos do lugar, nem saberemos que elas existem. A não ser que pessoas de muito longe venham nos contar sobre elas – e ver as “novidades” que o nosso céu tem para lhes mostrar.
A cada noite o firmamento nos ensina, silenciosamente, a lição da união e da humildade. Ainda não aprendemos bem nenhuma delas, mas enquanto continuarmos olhando para o céu haverá esperança.
+ História das constelações ocidentais
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