Convencido de que o ônibus espacial americano era uma ameaça militar, o governo soviético precisava de uma resposta para restaurar o equilíbrio de forças durante a Guerra Fria. Assim nasceu o Buran, palavra russa para Tempestade de Neve – o maior e mais caro projeto na história de corrida espacial soviética.
Ele seria o primeiro veículo soviético com possibilidade de colocar cargas em órbita e fazer voos tripulados simultâneos. Seus antecessores só executavam esses papéis separadamente, mas o Buran poderia levar 30 toneladas ao espaço e voltar com outras 20 toneladas, fora até dez passageiros.
Energia e Buran
Em meados da década de 1960 os soviéticos desenvolveram uma pequena nave reutilizável chamada Espiral. Esse míni-transporte seria lançado a partir de uma aeronave capaz de alcançar Mach 6 (ou seis vezes da velocidade de som).
O projeto foi encerrado em 1977, mas parte das experiências de desenvolvimento foi utilizada no projeto do Buran. Para isso foi nomeado como responsável Valentin Glushko, o mesmo que havia cancelado o programa lunar que ambicionava levar russos para a Lua.
Equipes inteiras foram transferidas de seus projetos, e duas novas agências foram criadas: a NPO Energia e a NPO Molniya. A primeira faria o poderoso foguete Energia, responsável pela colocação do ônibus espacial soviético em órbita, enquanto a outra faria o veículo reutilizável propriamente dito.
Jornada nas estrelas
Mas enquanto os russos organizavam seus esforços no planejamento do Buran, os americanos já estavam mudando seu projeto inicial do ônibus espacial (composto por três partes: um orbitador com asas em delta, o tanque exterior e dois foguetes propulsores, onde o tanque de combustível não é reaproveitado).
O primeiro projeto do ônibus espacial americano era um híbrido constituído por dois veículos, um enorme propulsor pilotado e uma espécie de avião, o orbitador. Esse sistema era totalmente reutilizável, mas não foi o que prevaleceu.
Diferentemente da NASA, Glushko propôs uma configuração onde um grande lançador poderia ser utilizado com ou sem o orbitador. Assim mesmo, sempre houve alguma incerteza sobre o papel do Buran no programa espacial russo.
A função principal parecia ser somente uma resposta militar ao ônibus espacial americano. Outra meta seria ajudar na construção da estação espacial Mir, embora para isso já existissem as bem-sucedidas naves Progress (que os americanos não dispunham).
Columbia
O primeiro ônibus espacial americano nunca foi ao espaço. Chamado originalmente Constitution, ele apenas fazia voos atmosféricos, mas seu sucesso perante o público foi tão grande que fãs da série de TV Jornada nas Estrelas mobilizaram um abaixo-assinado nacional para mudar o nome da nave para Enterprise.
Em 12 de abril de 1981, exatamente 20 anos depois do russo Yuri Gagarin se tornar o primeiro ser humano em órbita da Terra, o Columbia tornou-se o primeiro ônibus espacial a entrar em órbita. Três dias depois ele pousaria magistralmente na base Edwards da Força Aérea, na Califórnia.
Por ironia do destino, seu único problema foi à perda de algumas placas do isolamento térmico – a mesma coisa que causaria a destruição da nave (e a morte de seus 7 tripulantes) durante o regresso em fevereiro de 2003.
Na União Soviética, o Buran continuava a ser construído, mas o projeto parecia fadado ao cancelamento devido aos atrasos e alto custo. Foi quando durante um voo do ônibus espacial Challenger, em abril de 1985, o veículo se posicionou numa órbita que o conduziu por cima da União Soviética.
Os radares mostraram que o ônibus tinha diminuído sua altitude exatamente sobre Moscou, para logo voltar a subir. Isso foi o suficiente para que as autoridades russas achassem que os americanos estavam testando uma rota de bombardeio sobre sua capital.
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