Quando a Lua passa na frente do Sol temos um eclipse, porque afinal a Lua está na distância exata para encobrir o astro-rei. Porém, mesmo um planeta como Vênus, que é praticamente do tamanho da Terra, está longe demais para produzir um eclipse solar. Para um observador na Terra, quando Vênus ou Mercúrio passam diante do Sol temos um trânsito.
Trânsito delicado
Durante um trânsito, Vênus surge como uma delicada pérola negra, deslizando suavemente pelo esplendor do Sol – um evento raro, que só pode ser observado seguindo-se estritas normas de segurança (caso contrário, a luz do Sol pode nos cegar).
Visto da Terra, apenas os planetas interiores, isto é, Mercúrio e Vênus, podem realizar trânsitos. Em média, ocorrem 13 trânsitos de Mercúrio por século. Na época atual, os trânsitos desse planeta sempre caem próximos de 8 de maio ou 10 de novembro. O último foi em 8 de novembro de 2006. O próximo será em 9 de maio de 2016.
O trânsito de Vênus é ainda mais raro. Apenas sete deles aconteceram desde a invenção do telescópio (nos anos de 1631, 1639, 1761, 1769, 1874, 1882 e 2004). O trânsito de Vênus é mesmo um evento astronômico excepcional que acontece duas vezes em oito anos, voltando a ocorrer novamente mais de um século depois. O último foi em junho de 2012. Agora só em 2117.
Ponto de vista
De Vênus, é possível ver o trânsito de Mercúrio. Da Terra, esses dois planetas podem ser observados transitando pelo Sol. Seguindo o mesmo raciocínio concluímos – acertadamente – que o trânsito da Terra pode ser visto de Marte.
E se por acaso no dia 10 de novembro de 2084 alguns seres humanos estiverem explorando o Planeta Vermelho, terão o privilégio de ver o nosso frágil mundo azul transitar diante do Sol. Os trânsitos planetários não são apenas eventos curiosos. Eles podem servir para determinar a distância do observador ao Sol.
VISTO DE MARTE Gravura mostra o trânsito da Terra e Lua no ano de 2084. O observador deverá estar usando um telescópio solar.
Engarrafamento de planetas
Outro evento importante são os alinhamentos. Dois planetas quaisquer (ou mesmo a Terra e a Lua) estão sempre alinhados, pois basta imaginar uma reta que passe por eles! Bem mais difícil é o alinhamento de três ou mais astros do Sistema Solar.
O problema é que cada um tem um plano orbital diferente. O da Terra, por exemplo, é inclinado em relação ao plano orbital dos demais planetas. Em outras palavras, as órbitas dos planetas não podem ser corretamente reproduzidas desenhando-as sobre uma lousa ou outra superfície plana qualquer.
Na verdade, não há qualquer possibilidade de todos os planetas do Sistema Solar ficarem alinhados. Ainda que todos estivessem simultaneamente de um mesmo lado do Sol (algo possível), um alinhamento perfeito não ocorreria porque suas órbitas possuem diferentes inclinações.
O que acontece são os alinhamentos aparentes, quando as posições dos planetas vistas da Terra sugerem que eles estão em fila. Mas, na prática, isto não está acontecendo (se estivessem realmente alinhados, os veríamos no céu como um engarrafamento visto de frente: a separação angular entre os planetas seria próxima de zero).
Ainda assim, alinhamentos aparentes envolvendo todos os planetas de uma só vez são extremamente improváveis. Calcula-se que o tempo necessário para isso acontecer seja maior que o tempo de vida do Sol! Mesmo quando se fala num alinhamento de três ou mais planetas estamos fazendo uma aproximação grosseira.
Outro mal-entendido é pensar que se os planetas se alinhassem, o puxão gravitacional de cada um deles se somaria, a ponto de desencadear terremotos e outras catástrofes na Terra. Ledo engano. Mesmo que você some todas as forças de maré de Mercúrio até Plutão – ou mesmo além, o Sol e da Lua continuarão imbatíveis (veja a tabela acima).
+ O trânsito de Mercúrio e o tamanho do Sistema Solar
+ As cores das estrelas