O capítulo dois do Evangelho segundo Mateus começa com um relato intrigante. Magos vindo do Oriente chegaram a Jerusalém para visitar o recém-nascido menino-Jesus guiados por uma estrela. No passado, viajar pelo mundo guiando-se por constelações era bastante comum. Mas o relato original parece sugerir um astro singular, que ficou conhecido na história como a Estrela de Belém.
Uma das primeiras hipóteses foi proposta por Orígenes (183-254 EC) e, talvez pela sua beleza e raridade, foi a que mais permaneceu no imaginário popular. Retratado no quadro “Adoração dos magos”, do pintor Giotto, que teria ele mesmo presenciado a aparição no ano de 1301, a Estrela de Belém seria um cometa. O famoso cometa de Halley.
Mas essa hipótese não se sustenta, pois o reinado de Herodes I, na Judéia, estendeu-se de 37 AEC até 4 AEC, e o cometa de Halley, hoje sabemos, passou no ano 12 AEC, cedo demais para o intervalo que os historiadores concordam para o nascimento de Jesus (entre 7 AEC e 4 AEC).
Aliás, aqui cabe outra informação. Não se sabe ao certo o dia e mês de nascimento de Jesus, mas dificilmente foi 25 de dezembro (durante o rigoroso inverno boreal). Essa data foi escolhida para que os cristãos recém-convertidos substituíssem uma festa pagã romana, a Saturnália, comemorada em honra ao deus Saturno, da mitologia greco-romana.
Neste site fazemos uso das abreviaturas EC (Era Comum) e AEC (antes da Era Comum). O marco zero da Era Comum é o mesmo da Era Cristã, ou Anno Domini, mas como é sabido que a data do nascimento de Jesus Cristo foi calculada com erro pelos primeiros cronologistas, preferimos a notação acadêmica Era Comum. Entendemos que se insistíssemos no uso das expressões “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, acabaríamos escrevendo frases sem sentido, como “Jesus Cristo pode ter nascido no ano 7 antes de Cristo“.
Supernova
No final do ano de 1572, o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe descobriu uma estrela muito brilhante na constelação de Cassiopéia. Seu brilho era tamanho, que o novo astro podia ser visto mesmo à luz do dia.
Mais tarde esse fenômeno foi batizado de “supernova”, para designar estrelas que explodem, aumentando assustadoramente de brilho durante um período de tempo relativamente curto (meses).
Contemporâneos de Tycho viram no astro a mesma estrela que teria guiado os magos, enquanto outros afirmavam que ela anunciava a chegada de um novo Salvador.
Tríplice conjunção
Outra hipótese aventada foi a conjunção planetária. Isso acontece quando dois planetas brilhantes (como Vênus, Júpiter ou Saturno) se cruzam no céu, às vezes visualmente tão próximos que parecem um só.
Melhor ainda é a tríplice conjunção, que não envolve necessariamente três planetas, como se poderia supor a princípio, mas dois planetas (ou um planeta e uma estrela) que se encontram por três vezes em um curto período de tempo.
Conjunções entre Júpiter e Saturno acontecem em intervalos de cerca de 20 anos (a mais recente foi em 21 de dezembro de 2020), mas conjunções triplas entre esses planetas são muito mais raras. A última foi no início da década de 1980 e a próxima será somente no distante ano de 2238.
No ano 7 AEC aconteceu outra. Esses planetas se encontraram no céu em maio, setembro e dezembro daquele ano, na constelação de Peixes. Coincidentemente ou não, peixes costumam simbolizar o próprio Cristianismo.
É difícil chegar a qualquer conclusão sobre o assunto. A própria concepção de magos (homens sábios) vindos do Oriente apresenta falhas. Surgiu no século VI, quando seu número foi fixado devido a natureza de seus presentes. Porém, segundo uma tradição oriental, foram doze os magos que visitaram Jesus.
Historiadores modernos ainda apontam um simples erro de tradução: o relato original poderia se referir a estrelas, no plural, e com isso apenas indicando que os homens se guiaram pelas constelações para atravessar o deserto.
Tenha acontecido de fato ou não, a história dos magos e de sua “estrela-guia” permanece até hoje como um dos mais belos mistérios da humanidade.
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