Quando pensamos em Edmond Halley lembramos imediatamente do seu homônimo: o cometa preferido da humanidade. A cada 76 anos ele passa próximo do Sol e podemos vê-lo, em geral por alguns meses. Um cometa sempre nos lembra Halley. E, no entanto, ele fez muito mais que descobrir cometas.
Sua data de nascimento é incerta. O próprio Halley supunha 29 de outubro de 1656. Em sua adolescência foram vistos dois cometas, um em 1664, que foi ligado aos horrores da peste bubônica que se abateu em Londres, e outro em 1665, responsabilizado por um grande incêndio que acorreu no ano seguinte naquela cidade.
O pai de Halley era um próspero negociante londrino. Possuidor de diversas propriedades e muito rico, usaria sua riqueza para dar uma educação primorosa ao filho, mandando-o estudar em St. Paul, um dos melhores colégios da Inglaterra.
Halley não faria por menos. Em 1671 foi escolhido Captain (melhor aluno) de sua escola. Distinção que indicava que além de ótimo estudante era também popular entre os colegas.
Halley publicou o seu primeiro trabalho científico na revista da Real Sociedade de Londres em 1676, com o apoio de John Flamsteed, o Primeiro Astrônomo Real da Inglaterra, de quem se tornou amigo. Um dos feitos desse jovem notável foi determinar que os cometas se movem em trajetórias elípticas (em forma de elipse) e ainda a excentricidade dessas órbitas.
A excentricidade é a medida de alongamento das elipses. Uma elipse com excentricidade zero nem é uma elipse, mas um círculo perfeito. Se for maior ou igual a 1 a elipse não é mais uma curva fechada, mas uma parábola ou hipérbole. As elipses têm, portanto, excentricidades entre 0 e 1, e todos os corpos celestes se movem em trajetórias elípticas.
Vida bem vivida
Halley mal completara 21 anos e em 1676 embarcaria numa expedição de três meses e dez mil quilômetros na qual mapearia quase a metade do firmamento. Fez o primeiro mapa do céu austral, descobriu estrelas e nebulosas que os astrônomos europeus desconheciam. Na ilha de Santa Helena acompanhou o trânsito de Mercúrio pelo disco solar (um fenômeno relativamente raro que abordamos neste Caderno de Ciência e Meio Ambiente em 2003).
Mais tarde, em 1684, Halley teve um encontro com Isaac Newton que foi um divisor de águas tanto para ele, quanto para Newton e para a própria ciência. Basta dizer que desse encontro Newton viveria uma espécie de transe que o levou a trabalhar incessantemente pelos anos seguintes na investigação da gravidade e dos movimentos planetários.
Halley, por outro lado, voltaria a Londres para desempenhar um papel transformador na Real Sociedade e acabou ele próprio custeando a publicação da mais famosa obra de Newton, os Principia.
Por essa época os interesses de Halley se tornariam mais ecléticos do que nunca. Ele tentou determinar o tamanho do átomo, fez observações importantes sobre o magnetismo, a propagação do calor, a luz, a aerodinâmica, entre muitos outros.
Foi somente aos 39 anos que Halley começaria a trabalhar na obra em que é mais lembrado. Ele conseguiu reconstituir o paradeiro de um cometa durante sua fase de invisibilidade, quando está muito distante do Sol.
Por milênios os cometas haviam sido assunto preferido dos místicos, até que Halley os destroçou em seu próprio território: a profecia.
Halley previu que o cometa de 1531, 1607 e 1682 era o mesmo e voltaria no Natal de 1758. Jamais um místico chegou à tamanha precisão.
Somente um gênio científico apaixonado como Halley, o maior astrônomo de seu tempo, aprofundou-se tanto nas complexidades do Universo sem pagar o preço da alienação. Halley faleceu em 14 de janeiro de 1742, aos 86 anos de uma vida bem vivida.