Carl Edward Sagan nasceu no coração do Brooklyn, o famoso bairro de Nova Iorque, no dia 9 de novembro de 1934. Seus pais não eram cientistas. Na verdade, quase nada sabiam sobre Ciência. Sua mãe, americana, e seu pai, um imigrante russo que trabalhava como cortador numa indústria de confecções, estavam a somente um passo da pobreza.
Assim mesmo souberam ensinar ceticismo e admiração ao jovem Sagan. Duas formas de pensar que apesar da difícil convivência, são fundamentais no método científico.
Sagan sempre quis ser um cientista. Aos doze anos, quando anunciou aos pais que queria ser astrônomo, recebeu apoio incondicional. Apenas seu avô o questionou: “Muito bem”, disse o velho, “mas como é que você vai ganhar a vida?”
E se dependesse apenas das escolas primária e secundária, Sagan provavelmente não teria ido longe. Embora não fossem incompetentes, seus professores não o inspiraram ou encorajaram a seguir seus interesses. Naquela época, o próprio Sagan diria que seu gosto por Ciência fora mantido apenas pela leitura de livros e os gibis da série Classic Comics.
Boas recordações
Mas a escola superior foi a realização dos sonhos de Sagan. Lá ele encontrou professores que não apenas compreendiam Ciência, mas eram realmente capazes de explicá-la. Sagan estudou na Universidade de Chicago, num departamento de Física que girava em torno de Eurico Fermi. Ali ele conviveu com químicos como Harold Urey, matemáticos como Chandrasekhar, foi estagiário de biologia de H. J. Muller e aprendeu Astronomia Planetária com Gerard Kuiper.
Sagan teve o privilégio de vivenciar a universidade numa época e lugar em que a capacidade de informar e inspirar a próxima geração estavam em alta. Quando havia mais harmonia entre o status de “bom professor” e de “bom pesquisador”.
Nesse rico ambiente, Sagan preencheu muitas das lacunas de sua formação básica, e com pouco mais de 20 anos já trabalhava numa teoria sobre as misteriosas emissões de rádio de Vênus. Em 1960 recebeu um convite da NASA, a agência espacial americana, para participar do primeiro programa sobre vida fora da Terra.
Ensinou em Havard e, em sua tese de doutorado (link), propôs um modelo da atmosfera de Vênus, responsável pela altíssima pressão e temperatura desse planeta (efeito estufa). Uma hipótese que acabou sendo confirmada por missões espaciais posteriores.
Homem do Cosmos
Sua vida esteve profundamente ligada à exploração espacial americana. Desempenhando um papel de liderança desde o início, deu instruções aos astronautas das naves Apollo antes da viagem à Lua e conduziu experiências das missões planetárias Mariner, Viking, Voyager e Galileu. Com seu carisma e extraordinária habilidade de falar em público, construiu uma próspera carreira científica e literária, tornando-se um ícone da Ciência Espacial.
Embora a preocupação com a divulgação científica não tenha tido início com Carl Sagan (nomes com George Gamow o precederam), ele retornou ao tema com veemência ao destacar que as descobertas científicas só têm valor se forem compartilhadas, clamando os cientistas a saírem de seus laboratórios para cumprirem seu papel social e político (infelizmente muitos ainda não o escutam).
Foi brilhante neste sentido ao aproveitar o mais poderoso dos veículos de comunicação em massa para falar sobre Ciência. Carl Sagan foi autor da minissérie para televisão Cosmos, que estreou no Brasil em abril de 1982, conquistando quinhentos milhões de expectadores em 60 países.
Utilizando efeitos especiais na época disponíveis apenas para produções como Guerra nas Estrelas, a série mostrou desde uma molécula de ADN até as maiores estruturas do Universo, sem esquecer da história de alguns grandes nomes da Ciência.
O livro Cosmos veio logo em seguida e ficou na lista dos mais vendidos do New York Times por 70 semanas, tendo 42 impressões na edição americana e mais de 30 edições estrangeiras.
Ainda no início da década de 1980, Sagan ajudou a fundar a Sociedade Planetária, organização não governamental aberta e dedicada à exploração do Sistema Solar, à busca por planetas ao redor de outras estrelas e vida extraterrestre.
Hoje esta sociedade, que conta mais de 80 mil membros espalhados pelo mundo, trabalha em sua primeira missão espacial, um veículo capaz de mover-se em órbita da Terra usando a pressão da luz do Sol – como um barco à vela no mar. Tão romântico – e viável – quanto as aspirações de Sagan.
Uma de suas maiores realizações envolve ainda a separação entre Ciência e pseudociência. Sempre preocupado em levar tanto o cientista quanto o leigo a pensar, muitos de seus livros falavam sobre a refinada arte de detectar mentiras.
Homenagens
Devido a suas excepcionais contribuições, Sagan recebeu várias homenagens, como medalhas da NASA pelos trabalhos científicos e serviços prestados à comunidade, o prêmio John F. Kennedy da Sociedade Americana de Astronáutica, a medalha Konstantin Tsiolokovsky da Federação Soviética de Cosmonáutica e até o prêmio Pulitzer de literatura.
Em 1997, durante a missão Pathfinder ao planeta Marte, a região investigada pelo robozinho Sojourner foi batizada de “Memorial Carl Sagan”, e em 1998 o filme Contato, com Judie Foster, teve seu roteiro baseado no livro homônimo que Sagan publicou em 1985.
Infelizmente Sagan não chegou a ver o filme ou a expedição do robô em Marte. Ele faleceu na madrugada de 20 de dezembro de 1996, após lutar por quase dois anos contra uma enfermidade chamada mielodisplasia, que lhe custou agonizantes seções de quimioterapia e vários transplantes de medula.
Se estivesse vivo, Sagan teria hoje noventa anos. Sua memória traz a admiração, emoção e alegria que é aprender Ciência. Poucos cientistas se equiparam a ele. Sua capacidade de cativar nossa imaginação e explicar temas “difíceis” é um ato grandioso. A verdade é que o mundo precisa de muitos mais como Carl Sagan.
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