Percival Lowell nasceu em 1855 em uma família nobre da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos. Seu irmão mais novo foi diretor da Universidade de Havard e sua irmã era uma escritora muito conhecida. Lowell se graduou em Matemática com distinção no ano de 1876.
Ele viajou durante anos pelo país e seu interesse por Astronomia surgiu por causa do planeta Marte, naquela época considerado lar de uma civilização muito mais avançada que a nossa, lutando bravamente pela sua sobrevivência num planeta com severas mudanças climáticas e escassez de água.
Tudo isso começou com as observações do astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910). Ele percebeu, com um telescópio, uma série de linhas finas que uniam áreas escuras na superfície do planeta, como canais naturais que unem regiões alagadas.
Schiaparelli as chamou de canali, mas o termo foi traduzido para o inglês channel, que significa canal artificial. E aquela era uma época de grandes marcos na engenharia mundial, como o canal de Suez (1869), o de Corinto (1893) e o do Panamá (1914).
MAPA DE MARTE compilado por Giovanni Schiaparelli entre 1877 e 1886. A maioria dos nomes do relevo (Mare australe, por exemplo) ainda estão em uso.
Percival Lowell decidiu então construir um observatório com recursos próprios, em Flagstaff, no Estado do Arizona, a 1.500 m de altitude e sob um clima desértico não perturbado por nuvens nem pelas luzes das cidades, excelente para observações astronômicas.
Ele estava disposto a concentrar recursos e esforços para entender melhor o misterioso Planeta Vermelho – mas estava também fascinado pela “habilidade dos engenheiros marcianos”.
Obsessão
Por 15 anos, suas anotações foram repletas de áreas escuras e brilhantes, sugestões de calotas polares e um planeta inteiramente enfeitado por canais. Dezenas deles, cruzando Marte em todas as direções, uma rede complexa e sofisticada que buscava trazer água dos polos para irrigar as regiões equatoriais.
Lowell acreditou que os marcianos teriam construído tudo aquilo, num esforço desesperado de uma raça mais antiga e mais sábia que nós, ainda assim a mercê de graves alterações sazonais em seu mundo – que pedia socorro.
Lowell observou que Marte era seco e árido, assim mesmo muito parecido com a Terra. Os marcianos eram bons e esperançosos. A visão de Lowell ganhou aceitação popular, quase tão mística quanto o próprio Gênesis. Até hoje queremos ver vida em Marte.
Desse modo, os canais marcianos foram uma “realidade” por muitos anos, até que o aperfeiçoamento dos instrumentos óticos e o envio de sondas espaciais ao Planeta Vermelho mostrou que eles simplesmente nunca existiram.
Os canais de Marte, do modo como via Lowell, são resultado de uma disfunção óptica, sob condições de visibilidade difíceis – aliadas ao profundo desejo de ver alguma coisa. Foi a interpretação errônea de dados observacionais que havia criado os canais e os seus construtores.
Lowell faleceu em 1916, mas deixou grandes contribuições para o nosso conhecimento da natureza e da evolução dos planetas. Foi também decisivo na descoberta de Plutão, que recebeu este nome em sua lembrança: as duas primeiras letras desse planeta são também as iniciais de Percival Lowell. E seu símbolo é P, um monograma planetário.
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