Hiparco, ou Hipparkhos, em grego, foi um astrônomo e matemático que nasceu em Nicéia, na Bitínia, no século II AEC. Ele também viveu na cidade de Alexandria, mas trabalhou sobretudo em Rodes, onde construiu um observatório através do qual compilou um catálogo com a posição e o brilho de 850 estrelas do firmamento.
Aliás, foi Hiparco quem introduziu o conceito de grandeza, associado ao brilho (e não as dimensões) das estrelas. Ele chamou as estrelas mais luminosas de “primeira grandeza”, assim prosseguindo até as menos brilhantes, no limite da visibilidade humana, as estrelas de “sexta grandeza”, segundo Hiparco.
Hoje em dia esse conceito foi substituído por “magnitude”, uma escala logarítmica obtida através de instrumentos muito sensíveis, e que permite expressar valores com algumas casas decimais de precisão. Nada que diminua o valor do trabalho de Hiparco, considerado por muito estudiosos o maior astrônomo da era pré-cristã, o Pai da Astronomia – e também da Trigonometria.
Grandes feitos
Assim como a maioria dos matemáticos de sua época, Hiparco foi influenciado pela matemática dos Babilônios. Por isso também acreditava que a melhor base numérica para realizar contagens era a base 60. Os babilônios não haviam escolhido essa base por acaso. O número 60 pode ser facilmente decomposto em um produto de fatores, o que facilita em muito os cálculos, especialmente as divisões.
Foi por isso que ao dividir a circunferência, Hiparco escolheu um múltiplo do número 60. Para Hiparco, cada uma das 360 partes iguais em que dividiu a circunferência foi chamada “arco de 1 grau”. E cada “arco de 1 grau” foi dividido em mais 60 partes iguais chamadas “arco de 1 minuto”. Finalmente, cada “arco de 1 minuto” foi dividido em outras 60 partes iguais os “arcos de 1 segundo”. Até hoje fazemos assim.
Naturalmente, na época em que viveu Hiparco não havia telescópios. Seu observatório era apenas um local de onde podia passar horas estudando o céu a olho nu, embora usasse instrumentos tecnicamente muito bem feitos (mas não ópticos) que ele mesmo construía, e que o fez se destacar também pelo método e rigor de suas observações.
Hiparco deduziu o valor correto para a razão entre o tamanho da sombra que a Terra projeta no espaço e o diâmetro da Lua. Ele também calculou que a Lua está distante entre 62 e 74 vezes o raio da Terra (o resultado real fica entre 57 e 64), e determinou a duração do ano (e a duração das estações) com uma excelente margem de erro. Infelizmente, porém, Hiparco não deixou muitos escritos e as citações ao grande astrônomo aparecem principalmente em Ptolomeu, na sua obra Almagesto.
Terra imóvel
A Hiparco atribui-se a descoberta da “precessão dos equinócios”, seu maior feito científico. Equinócios (da primavera e do outono) são como são chamados os dois únicos dias do ano nos quais o dia e a noite têm a mesma duração.
Eles ocorrem em março e em setembro quando o Sol, em seu aparente movimento em torno da Terra, cruza o equador celeste – que é simplesmente a projeção do equador terrestre numa esfera imaginária de estrelas fixas.
A TERRA GIRA em torno de seu próprio eixo inclinada. Mas o planeta não é esférico, por isso a atração do Sol no equador tende a endireitá-lo. Por causa da rotação, o efeito resultante é uma lenta mudança de direção do eixo. O movimento é similar ao de um peão que bamboleia enquanto gira. Um ciclo completo demora 26 mil anos.
Hiparco descobriu que o Sol não está sempre na mesma posição do zodíaco quando ocorrem os equinócios. Em outras palavras, os pontos em que a trajetória aparente do Sol cruza o equador celeste mudam (na verdade se antecipam, ou precedem – daí o termo) com o tempo.
Mas Hiparco não interpretou esse fenômeno como sendo causado pela precessão do eixo da Terra. Para Hiparco a Terra não girava e, portanto, não possuía polos ou eixo de rotação. Era a esfera das estrelas que girava em torno de nós. Ela possuía um eixo (e polos e equador).
Dessa maneira, a precessão dos equinócios era interpretada como devido a um deslocamento do eixo da esfera das estrelas (ou do eixo da esfera que transportava o Sol, mas nunca do eixo da Terra). Além disso, naquela época, nada permitia concluir que esses eixos executavam um movimento semelhante ao de um pião.
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