Não seria incorreto afirmar que o terceiro planeta a partir do Sol é um sistema duplo, isto é, são dois planetas girando em torno de um centro comum de gravidade. Então como, ao mesmo tempo, podemos dizer que a Lua é um satélite da Terra?
O aparente paradoxo está na definição desses termos. Muitas vezes, quando um corpo celeste “aprisiona” outro, de menor massa, obrigando-o a orbitar em torno dele, chamamos o maior de planeta e o(s) outro(s) de satélite(s).
Ainda que o maior tenha apenas 1% mais massa que seu companheiro, teremos um planeta e um satélite. Mas, normalmente, um satélite tem milhares, às vezes milhões de vezes menos massa que seu planeta.
No sistema Terra-Lua, porém, a correlação de massa é 1/81 (ou seja, a Lua tem 81 vezes menos massa que a Terra). Essa relação só perde para o sistema Plutão-Caronte, com 1/8 (os astrônomos geralmente concordam que Plutão e Caronte formam um sistema duplo).
É que, no nosso caso, o centro de gravidade do sistema fica no interior da Terra, ainda que não no centro do planeta (veja a figura abaixo), de forma que nem todos os astrônomos concordam com a classificação “planeta duplo” para a Terra e a Lua.
Baricentro
Satélites relativamente maciços forçam o planeta a girar em torno de um ponto denominado baricentro, que no caso do sistema Terra-Lua está localizado exatamente ao longo da linha que conecta o centro de massa da própria Terra com o da Lua. E a distância entre esses centros é o que chamamos de distância Terra-Lua, em média, 384.405 quilômetros.
A distância do centro da Terra ao baricentro é de 4.641 km. Perceba que a Lua não gira em volta do centro de massa da Terra (ou mesmo de um ponto próximo). Ambos, Terra e Lua, giram em torno do baricentro, situado a 1.737 quilômetros abaixo da superfície terrestre (conforme a figura acima).
Por isso, considerando que o centro de massa do sistema Terra-Lua está sensivelmente deslocado do centro da Terra, não é correto afirmar que a Lua gira em torno da Terra. Na verdade, tanto o nosso planeta quanto seu satélite natural giram em torno desse centro de massa comum – o baricentro.
Se viajássemos numa nave espacial até uma certa distância veríamos Terra e Lua dançando como um par de bailarinos no espaço. Se fossemos ainda mais longe, de modo que toda a órbita terrestre pudesse ser contemplada, perceberíamos que a Terra não segue rigorosamente seu traçado orbital. Quem faz isso é o sistema Terra-Lua.
Mundos irmãos
Há muitas outras coisas curiosas a respeito do sistema planetário do qual fazemos parte. A distância da Lua a Terra é de aproximadamente 60 raios terrestres, maior que a grande maioria dos satélites próximos.
Conhecidas as massas e distâncias, é fácil calcular as atrações gravitacionais que o Sol e os planetas exercem. Fazendo isso você descobrirá, para seu espanto, que a atração do Sol sobre a Lua é 2,2 vezes maior que a exercida pela Terra sobre a Lua. Isto significa que se a Lua estivesse imóvel, iria cair na direção do Sol e não da Terra!
Também por causa disso, quando tomado um referencial no Sol, a trajetória da Lua está sempre curvada na direção da estrela.
A revolução da Lua em volta da Terra se dá num período de aproximadamente 29 dias. Seu percurso não é circular. A Lua ora fica mais perto, ora mais longe de nós, e algumas vezes está adiantada, outras vezes atrasada. No final acaba sempre mostrando a mesma face para a Terra, mas com uma pequena oscilação que nos permite ver um pouco mais que a metade, ou 59% da superfície lunar. É a chamada “libração óptica da Lua“.
Se hoje a Lua gira em volta da Terra é porque já girava no passado. Ou seja, a Lua não é um astro capturado pela gravidade terrestre. Em termos de composição, origem e evolução, ela é semelhante a qualquer planeta terrestre.
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