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Astronomia no Zênite
Diário astronômico - Espaçonave Terra

Estranhos meteoros

Os cometas esparramam detritos em suas rotas em torno do Sol. Especialmente quando se aproximam do astro-rei e se aquecem. Isso acontece justamente na vizinhança do nosso planeta, que periodicamente atravessa essas regiões infestadas de partículas, a maioria do tamanho de um grão de arroz, como um ônibus cruzando uma nuvem de mosquitos à noite.

MeteorosCAUSANDO CHUVA  Quando a Terra cruza com o rastro empoeirado dos cometas o céu tem mais “estrelas cadentes”.

Vêm dos restos dos cometas as chamadas chuvas de meteoros. São os enxames das populares “estrelas cadentes”, que afinal podem ser vistas esporadicamente em qualquer noite, e somente em certas datas se aglutinam num curto intervalo de tempo, permitindo deduzir uma taxa horária.

Phaethon

Mas existe uma exceção à regra. A fonte de detritos da chuva de meteoros Geminídas (ou Geminídeas) que acontece todo segundo final de semana de dezembro é o objeto 3200 Phaethon, descoberto em 1983 por um satélite americano capaz de enxergar no infravermelho.

Só que Phaethon não age como um cometa. Na verdade, baseado em sua órbita e no modo como ele reflete a luz do Sol, os astrônomos o acham muito mais parecido com um asteroide.

 P/2012 F5
CONCEPÇÃO ARTÍSTICA de P/2012 F5, um asteroide cujo rastro de partículas foi causado por uma ruptura interna ou colisão com outro asteroide. Imagem: Agência SINC, Espanha.

Talvez esse estranho objeto seja um pouco de ambos. Parece notório que a nomenclatura usada na Astronomia não está acompanhando o passo das descobertas. Gostamos de colocar os objetos em categorias bem definidas, enquanto a natureza não tem a mesma necessidade.

Afinal, Plutão é um planeta ou um mero integrante do Cinturão de Kuiper? Ou quando um gigante gasoso como Júpiter pode ser chamado de anã marrom? Cometas que passam muitas vezes perto do Sol se esgotam, e ficam vagando no espaço sem cauda ou cabeleira, como asteroides. Devemos reclassificá-los?

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Cometa adormecido

Alguns estudos indicam que os meteoros provenientes das Geminídas têm cerca de mil anos de idade. Então, poderíamos pensar que há mil anos o “cometa Phaethon” teria evaporado o que restava de gelo em sua superfície (cometas são basicamente bolas de gelo sujo), e toda vez que a Terra cruza essa velha trilha de detritos as noites se enchem de “estrelas cadentes”.

Os meteoros criados por Phaethon são mais densos que os normalmente produzidos por cometas. Ainda assim menos densos que a composição típica dos asteroides. Phaethon também poderia ser um cometa novinho em folha, com sua camada de gelo ainda protegida por uma capa de poeira. Isso explicaria a intensidade da Geminídas, que vem crescendo a cada ano.

3200 Phaethon
A ÓRBITA INCOMUM de Phaethon cruza à terrestre, e todo o mês de dezembro o nosso planeta tem um encontro marcado com seus estranhos meteoros. Gravura adaptada.

Os meteoros desta chuva penetram em nossa atmosfera com velocidades médias de 35 quilômetros por segundo, especialmente de madrugada, quando olhar para o céu significa estar de frente para o caminho que o nosso planeta percorre no espaço.

O MITO E A LENDA

Na falta de uma unanimidade, o objeto conhecido como 3200 Phaethon tem sido classificado como um asteroide Apollo, assim denominado após 1862 Apollo, o primeiro desse grupo, descoberto pelo astrônomo alemão Karl Reinmuth na década de 1930.

Os asteroides Apollo situam-se relativamente perto da Terra. Mas Phaethon se diferencia pelo traçado orbital incomum. Ele tem um tamanho aproximado de 5,1 x 2,5 km, e uma cauda de poeira que se estende por 350 mil quilômetros no espaço (quase a distância da Lua).

Seu nome remete ao personagem Faetonte, da Mitologia Grega. Filho do deus Sol, diz a lenda que um dia os amigos dele duvidaram de sua origem divina. Por causa disso, Faetonte pediu ao pai que o deixasse conduzir seu carro, para assim demonstrar a todos que era seu filho.

O carro do Sol, segundo a Mitologia Grega, era uma carruagem de fogo puxada por quatro velozes cavalos brancos que soltavam chamas pelas narinas. Todos os dias o deus Sol conduzia seu carro pelo céu e, ao chegar no ponto mais alto, por volta do meio-dia, começava a descer em direção ao Ocidente, onde terminava sua viagem diária.

Bem a contragosto, o Sol permitiu que Faetonte conduzisse seu carro. Mas aconteceu que quando os cavalos perceberam que não estavam sendo guiados pelo habitual pulso firme do deus, correram desembestados, subindo alto demais, ameaçando incendiar a rota celeste e chegando perto demais da Terra.

Por causa desse vexame de Faetonte a Líbia se transformou num deserto e os povos etíopes ficaram negros! O Universo inteiro teria ardido em chamas se Júpiter – o poderoso Zeus, deus dos deuses do Olimpo – não tivesse intercedido, fulminando Faetonte com um raio, que assim caiu sem vida nas águas do rio Erídano.

The Fall of Phaeton
The fall of Phaethon (A Queda de Faetonte), de George Stubbs (1780). Fonte: topofart.com

Espetáculo luminoso

Diferentemente dos cometas, que vagam pelo espaço bem mais longe que a Lua e podem ser vistos no céu por horas a fio, durante semanas, os meteoros são traços luminosos rápidos que acontecem no interior de nossa atmosfera – por causa do rápido aquecimento do ar durante sua passagem.

E cada chuva tem meteoros ligeiramente diferentes. Os da Geminídas são brilhantes, opulentos e, sob boas condições (céu limpo e longe das luzes urbanas), podemos contar pelo menos 75 deles por hora. Ou mais de um por minuto na madrugada de 13 de dezembro (o auge da chuva).

Um convite para passar a noite em claro caçando as “estrelas cadentes” do misterioso Phaethon. Já imaginou quantos pedidos você pode fazer? Artigo de Astronomia no Zênite

 

Chuvas de meteoros
Asteroides perigosos

Publicação em mídia impressa
Costa, J. R. V. Estranhos meteoros. Tribuna de Santos, Santos, 6 dez. 2004. Caderno de Ciência e Meio Ambiente, p. D-2.
Créditos: Costa, J.R.V. Estranhos meteoros. Astronomia no Zênite, 7 jul. 2016. Disponível em: <https://zenite.nu/estranhos-meteoros>. Acesso em: 2 dez. 2024.
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