A luz surge de repente. Vai ficando cada vez mais intensa enquanto se move lentamente, até que supera o brilho de todas as outras estrelas do céu. É surpreendente e, às vezes, assustador. Mas tudo se desfaz na mesma velocidade com que surgiu. Não fica nada no lugar, nenhum vestígio.
O que foi aquilo? Terá sido um disco voador? Uma estrela cadente? Uma supernova? Nada disso. Por trás daquele brilho intenso está uma marca bem conhecida, que muitos carregam no bolso – e um dos maiores fracassos comerciais de todos os tempos.
LUZ REPENTINA Foto original de Gregory e Mary Beth Dimijian.
Fracasso luminoso
A Motorola levou mais de 10 anos e 20 bilhões de dólares para desenvolver seu ambicioso projeto mundial de telecomunicações, o Iridium. Naquela época os celulares eram grandes e analógicos, e a empresa pretendia fornecer telefones móveis que funcionassem em qualquer parte, mantidos por uma rede de mais de 60 satélites ao redor do globo.
O que eles não esperavam foi o rápido desenvolvimento da tecnologia, junto com um aumento espantoso das áreas de cobertura. Quando os primeiros satélites Iridium foram lançados, já era possível fazer e receber ligações entre as maiores cidades do mundo no sistema digital, muito superior em qualidade e facilidades.
Assim, em 1999, a Motorola enterrou seus planos e anunciou publicamente o fracasso bilionário. Alguns dos 66 satélites já lançados foram desativados e destruídos. Mas ainda existem tantos Iridium em órbita que você pode esperar ver pelo menos um deles por semana. E acredite: você não vai esquecer essa experiência.
Flares indesejáveis
O brilho momentâneo de um satélite Iridium (em inglês Iridium flare) é causado pela reflexão da luz do Sol em suas três antenas polidas, do tamanho de uma porta, montadas com 120º de separação uma da outra e inclinadas 40º com relação ao corpo do satélite.
Em órbita a 800 km de altitude, ocasionalmente uma antena reflete a luz do Sol direto para a Terra, criando um foco de luz com 10 km de diâmetro. Enquanto já é noite aqui embaixo, o Iridium focaliza o brilho do Sol como uma lupa, justo em cima da sua cidade. Sem pânico. O resultado é só uma “estrela” que brilha bem forte por alguns segundos.
A maioria atinge magnitude -8, mas alguns podem chegar a -9.5. Quando não estão brilhando dessa maneira, um satélite Iridium ainda pode ser visto a olho nu, mas sua magnitude fica em torno de +6, o mesmo que uma estrela bem fraquinha.
A maioria dos astrônomos não gosta deles. Seu brilho intenso pode estragar a foto de uma nebulosa e até danificar alguns instrumentos sensíveis. Mas há quem simplesmente se renda e vire um caçador de Iridium.
Seguindo satélites
Por sorte não é preciso ficar com dor no pescoço, esperando indefinidamente até que um deles lhe surpreenda em alguma parte do céu. Ao contrário de um meteoro, cuja hora exata é imprevisível, a passagem de um satélite pode ser calculada com muitos dias de antecedência.
Na página Meu Céu você pode conferir se algum Iridium vai passar sobre sua cidade nos próximos dias. E se você gostou mesmo da brincadeira e quer se tornar um caçador de carteirinha também pode instalar o programa gratuito Orbitron no seu computador pessoal.
Qualquer que seja a opção vai lhe dar o prazer de escolher qual objeto rastrear. Você vai saber se está acompanhando a passagem da Estação Espacial Internacional, do telescópio Hubble, de um satélite espião Cosmos ou de um luminoso Iridium.
E você que achava que o céu noturno era um lugar completamente diferente daquela rodovia movimentada…
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+ Meu Céu (passagens de satélites sobre a sua cidade)