Janeiro é o mês das novidades ou, pelo menos, da promessa de novidades. Nosso inconsciente coletivo vê a chegada de um novo ano (anunciada com pompa e circunstância pelo dia 1º de janeiro) como uma oportunidade única de implementarmos mudanças e traçarmos novos rumos. É um marco temporal fictício, mas poderoso. Janeiro representa o início de algo novo; é o primeiro mês do ano.
Mas nem sempre foi assim…
Janeiro, quando foi criado por Numa Pompílio, era o último mês do calendário romano. E, por falar em “último”, janeiro foi, também, um dos últimos meses a serem criados! Se pararmos para pensar, o sentimento figadal em relação a esse mês deveria ser o oposto de “começo”!
Nosso calendário, o Gregoriano, foi construído sobre um calendário mais antigo, o Juliano. Este, por sua vez, é um aprimoramento do calendário original romano, criado por Rômulo, primeiro rei de Roma, quando da fundação da Cidade Eterna.
Rômulo teve uma ideia inusitada. Criou um ano com dez meses, que começava em março (martius, em latim) e terminava em dezembro (december). Após dezembro, vinha um interstício invernal, um período não contabilizado, que durava cerca de 60 dias. Após esse longo hiato, um novo ano começava em 1º de março e a vida voltava à sua rotina cotidiana em Roma.
Um detalhe: naquela época, não se usavam numerais ordinais para relacionar os dias do mês. Alguns dias tinham nome próprio e os demais eram referenciados com relação a esses. O primeiro dia do mês chamava-se “Dia de Calendas”, de onde derivou a nossa palavra “calendário”. O último dia de um mês não tinha nome próprio, por exemplo, e era chamado de “dia antes das Calendas”…
Mas voltando a janeiro… Rômulo usava esse estranho sistema com vários e vários dias que não pertenciam a mês nenhum. Quando Numa Pompílio, seu sucessor, assumiu o trono, por volta do ano 700 antes da Era Comum, tratou de preencher essa lacuna e criou dois novos meses. Logo depois de dezembro vinha fevereiro (februarius); e em seguida, janeiro (januarius).
Janeiro era o último mês do ano e, por isso mesmo, foi batizado em homenagem a Jano, divindade mitológica que tomava conta dos portões do Monte Olimpo. Segundo a lenda, Jano tinha duas caras, e nada, nem ninguém, passava por ele sem que percebesse. Numa Pompílio achou interessante dar a Jano o último mês do ano, um mês que “olhava para os dois lados”, tanto para o passado, quanto para o futuro.
E talvez janeiro continuasse sendo o último mês do ano se a política não tivesse se intrometido na história do calendário… Porque Roma tornou-se uma república e o Senado, querendo manipular a duração dos mandatos de seus senadores, acabou por fazer alterações que não tinham muita relação com a Astronomia. E assim, com uma canetada (que nem existia naquela época!), janeiro passou a ser o primeiro mês do ano!
(Júlio César e o Papa Gregório XIII manteriam isso em suas reformas e é isso o que temos até hoje.)
Resumindo: janeiro é o primeiro mês do ano por uma arbitrariedade, pura e simples. Esse negócio de “um novo ciclo” faz parte do nosso
, mas é só isso. Não espere janeiro para tentar coisas novas e fazer novos planos.Mas já que janeiro chegou, não dá pra ficar parado. Por isso aproveitamos para lançar essa nova coluna aqui em Astronomia no Zênite. Acompanhe!
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