NEAR significa perto em inglês. Mas assim, escrito todo em letras maiúsculas, é a sigla para Near Earth Asteroid Rendezvous. Algo que podemos traduzir como “sobrevoo de um asteroide próximo da Terra”.
Asteroides têm apenas algumas centenas de quilômetros e formas muito irregulares. Não fosse pela cor clara e a pele lisa, um balcão de batatas no supermercado bem que lembraria um monte deles.
CINTURÃO PRINCIPAL A maioria dos asteroides que conhecemos no Sistema Solar se situam entre as órbitas dos planetas Marte e Júpiter. Mas alguns deles chegam bem mais perto. Gravura: space-facts.com
A agência espacial americana (NASA) designou a sonda NEAR para ser a primeira de uma série denominada “Programa Discovery” ─ pequenas sondas que deviam estar prontas para o lançamento em três anos e a um custo inferior a 150 milhões de dólares.
Mas essa espaçonave já seria capaz de entrar para a história só pelo seu sobrenome: Shoemaker. Foi uma homenagem póstuma ao geólogo Eugene M. Shoemaker (1928-1997), conhecido por seus trabalhos sobre impactos de meteoritos, assim como pelo estudo de vários cometas.
O principal objetivo da NEAR-Shoemaker era entrar em órbita de 433 Eros, um asteroide cujo tamanho excede em milhares de vezes o de seus vizinhos (suas dimensões aproximadas são 33 x 13 x 13 km) e é originário do Cinturão Principal.
As análises da sonda incluíram a determinação da massa, forma, composição, campo magnético, estrutura interna e também o mapeamento da superfície.
Antes de alcançar Eros, ela também tirou fotos do cometa Hyakutake (1996), sobrevoou o asteroide 253 Mathilde (1997) e a própria Terra (1998).
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Missão em perigo
Mas bem antes do encontro com Eros, após a assistência gravitacional da Terra, a missão passou por maus bocados. Em dezembro de 1998, uma sequência programada de ignição dos retrofoguetes da NEAR-Shoemaker foi iniciada, mas abortada automaticamente. A nave entrava em modo de segurança.
Durante a anomalia, os propulsores da sonda dispararam milhares de vezes, reduzindo a margem de operações da missão para zero e quase resultando na perda da sonda devido à falta de orientação solar e consequente descarga da bateria.
A causa do incidente nunca foi determinada, mas acredita-se que o software da nave e outros erros operacionais tenham contribuído.
Um novo plano foi posto em prática e, finalmente, a NEAR-Shoemaker se aproximou pela primeira vez de Eros em janeiro de 1999.
Mas uma inserção orbital bem sucedida só aconteceria no dia 14 de fevereiro de 2000 (dia de São Valetim ─ o dia dos namorados na maior parte do mundo). Só essa vitória já lhe permitiu fornecer 10 vezes mais dados que o previsto, incluindo quase 160 mil imagens.
Foi detectada a presença de magnésio, silício e alumínio, indicativos de que o asteroide permaneceu praticamente inalterado desde a formação do Sistema Solar. Eros é um corpo sólido, de composição uniforme, com mais de 100 mil crateras de impacto e constituído de materiais mais antigos que a própria Terra.
A grande façanha
Ao longo da missão, os controladores tiveram uma ideia audaciosa: fazer a nave tocar a superfície de Eros quando ao término do programa científico da missão. A proeza foi ainda mais ousada porque a sonda não foi projetada para qualquer tipo de pouso.
Os técnicos esperavam que durante a descida fossem obtidas fotos com extrema definição, até o instante em que a sonda se chocasse contra o solo de Eros, a uma velocidade entre 1 e 3 metros por segundo. Eles estavam estimulados pelo êxito de aproximações orbitais anteriores. Embora muita coisa que pudesse dar errado…
Então, em 12 de fevereiro de 2001, a NEAR-Shoemaker moveu-se na direção de Eros, efetuando uma descida controlada logo depois. Tudo correu bem e foi assim que — pela primeira vez na história — um artefato humano pousou num asteroide, situado a mais de 316 milhões de quilômetros da Terra.
Na superfície, os instrumentos da NEAR-Shoemaker continuaram funcionando e, embora não pudesse tirar novas fotos, a sonda realizou análises por mais de uma semana. Os últimos dados foram enviados para a Terra em 28 de fevereiro de 2001, quando então a NEAR mergulhou no eterno silêncio de Eros.
Em agosto do ano seguinte seus painéis solares voltaram a receber luz, realimentando as baterias da nave. Era uma oportunidade para tentar acordá-la de sua longa e fria hibernação. Infelizmente, isso não funcionou e ela dormiu para sempre na superfície de Eros.
Não tem problema. Ela já fez muito. Boa noite, NEAR. E obrigado por tudo.
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