Tons intensos de vermelho e laranja têm marcado o amanhecer e o anoitecer em várias partes do mundo. São padrões de cores bem diferentes do que comumente observamos durante os crepúsculos, que já são belos, e tornaram-se ainda mais notáveis desde o final janeiro de 2022, incentivando a observação do céu para registrar um show de cores exóticas.
Esse espetáculo tem acontecido em diferentes lugares e em ambos os hemisférios, ainda que com frequências e padrões de cores um pouco diferentes. Em algumas regiões têm prevalecido o vermelho, enquanto em outras o céu adquire um tom mais bege ou alaranjado.
Após um mês e meio, e ainda com a tendência de continuarmos vendo padrões de cores diferentes por mais algum tempo, um fenômeno natural tem sido entendido como a principal causa: a erupção vulcânica em Tonga, em 15 de janeiro de 2022.
CARTÃO POSTAL Amanhecer no Rio de Janeiro sob efeito de aerossóis vulcânicos em 2022. Foto de Anderson Mothe.
Tonga
Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai é o nome completo de um vulcão submarino localizado próximo a Tonga, um país insular no Pacífico Sul. Sua latitude é 20° Sul, a mesma de Vitória, ES. Já sua longitude mostra que ele está bem distante do Brasil, a 175° Oeste (a mais de 12 mil km de São Paulo, por exemplo). O território faz parte de um arco vulcânico altamente ativo, mas sobre o qual ainda há muito a se descobrir.
Perto do fim da tarde de 15 de janeiro, pelo horário local (quase 1h da manhã no fuso de Brasília), uma explosão muito intensa, liberando energia equivalente a aproximadamente 18 megatons, provocou ondas de choque e tsunamis que se espalharam por todo o oceano Pacífico. Ela produziu a pluma vulcânica mais alta já registrada, chegando a 58 km acima do nível do mar, o bastante para penetrar na mesosfera!
FORMIDÁVEL A animação acima reune fotos de satélite obtidas durante cerca de 2 horas no final da tarde de 15 de janeiro de 2022 (horário local). Fonte: Wikipédia.
Até então, a maior pluma vulcânica já registrada havia sido a do vulcão Pinatubo, na Indonésia, que em 1991 expeliu cinzas até uma altitude de 35 km. A quantidade de aerossóis lançados por esse vulcão foi tão grande que eles permaneceram na atmosfera por cerca de quatro anos.
Já o vulcão de Tonga, apesar do recorde de altitude, lançou uma quantidade menor de partículas no ar. Elas podem permanecer na estratosfera por cerca de um ano até se precipitarem ou se dispersarem completamente.
Efeitos especiais
Cerca de 12 dias após a erupção, no dia 26 de janeiro, já foi possível observar o nascer e o pôr do Sol mais avermelhado ou amarelado pelos céus do Brasil. De acordo com os meteorologistas, após a erupção, o dióxido de enxofre lançado na atmosfera reage com alguns elementos e se transforma em sulfato, caindo para camadas mais baixas da atmosfera.
A interação do sulfato com a luz solar é o que causa a alteração das cores, produzindo as colorações com tons intensos observadas em alguns lugares.
O entardecer e o amanhecer são os melhores momentos para observar porque, nessas ocasiões, olhamos através de uma camada mais espessa da atmosfera. As cores se intensificam na medida em que a luz solar atravessa um caminho maior, encontrando grandes concentrações de aerossóis.
A coloração do céu, neste evento em especial, ficou mais evidente durante a madrugada, poucas horas antes do amanhecer. Ainda não há muitas informações, mas provavelmente isso se deve aos aerossóis terem chegado ao Brasil vindos pelo Leste, aumentando sua concentração nesse lado do horizonte, enquanto no Oeste ficaram mais dispersos.
Mas não foi em toda alvorada ou fim de tarde que esses efeitos coloridos puderam ser percebidos no céu. Durante os primeiros 45 dias desde a erupção foi possível notar um intervalo de cerca de duas semanas entre esses shows de cores, sugerindo que os aerossóis estão dando voltas e voltas ao redor do nosso planeta em grandes “nuvens invisíveis”.
Os diferentes tipos de padrões de cores não podem ser previstos, pois dependem de muitas variáveis locais e globais. Porém, ao observar alguns dos detalhes abaixo nos registros fotográficos, é possível descobrir se a cor que você viu no céu está relacionada aos aerossóis desta erupção em Tonga.
☼ Predominância de coloração avermelhada intensa, mesmo muito depois do pôr do Sol, ou bem antes do nascer, com nuvens vermelhas ou rosas. A cor extremamente avermelhada indica alta concentração de aerossóis (foto ilustrativa);
☼ Presença de um arco amarelo bem definido e com um brilho intenso e metálico próximo ao horizonte, que pode perdurar por dezenas de minutos antes do nascer do Sol ou após ele se pôr (foto);
☼ Coloração amarelada e bege, com nuvens finas e altas mesmo ao Leste (o lado do nascente), após o pôr do Sol (foto);
☼ Raios crepusculares bem definidos, com arco amarelo destacado, camadas rosas e avermelhadas na extremidade e alto contraste com o céu de fundo (foto).
E como a boa Ciência começa com o encantamento pela natureza, que tal você exercer o seu lado “cientista cidadão” e passar a observar mais atentamente o nascer ou o pôr do Sol da sua cidade?
Com os celulares, cada pessoa hoje em dia carrega uma máquina fotográfica. Registrando um fenômeno cotidiano (e tão lindo!) quanto o crepúsculo você também pode fazer Ciência.
Confira as imagens da nossa galeria, abaixo. O que está acontecendo no céu? Vamos descobrir juntos, usando fatos e fotos – com Ciência.
Galeria de fotos
+ Atmosfera, morada das nuvens
+ Nascer e ocaso