Eventos celestes provocam admiração e assombro na humanidade desde sempre. Eclipses totais do Sol transformam o dia em noite, quebrando de forma devastadora o ciclo de claro e escuro que estamos tão acostumados. E os da Lua primeiro escurecem o luar, para depois tingi-lo de um encarnado que nos remete à cor de nosso próprio sangue.
Quando o segundo Sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam se tratar
De um outro cometa
— Nando Reis, 1998.
Há muito mais coisas que podem acontecer no céu, diurno ou noturno, para nos deixar perplexos. E como a vida não é fácil, nunca foi, o viés humano costuma remeter essas coisas à tragédia ou catástrofe. Mesmo hoje, quando o acesso à informação é mais igualitário que décadas ou séculos atrás.
Um evento celeste que também leva essa má fama são os alinhamentos planetários. Vários planetas (de preferência) alinhados no céu só podem ser “um sinal”. E bem possivelmente é de transformação. Algo muito sério está para acontecer…
Agora voltou-se a falar deles, dos alinhamentos. O “anúncio” mais comum é que “neste 25 de janeiro de 2025 todos os planetas estarão em uma linha em um lado do Sol e visíveis em nosso céu noturno”.
Planetas visíveis
Bem, nós só podemos ver a olho nu cinco planetas: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Em janeiro de 2025 (e em praticamente todo o mês, não somente no dia 25) os planetas Marte, Júpiter, Vênus e Saturno podem ser vistos numa linha ao longo do céu. Entre Vênus e Júpiter, os mais brilhantes, ainda se posicionarão Netuno e Urano, visíveis apenas com algum instrumento astronômico.

Então, o alinhamento é verdadeiro? Não, não é.
Vemos planetas alinhados no nosso céu desde sempre também. Só que eles todos nunca estão alinhados de verdade. É tudo uma “perspectiva terrena”.
Expliquemos melhor. Para imaginar uma reta bastam dois pontos, certo? Então, em primeiro lugar, dois planetas quaisquer (ou um planeta e a Lua ou o Sol) formam uma linha. Sempre.
Mas também não é incomum que três ou mais fiquem dispostos de forma que continuamos a imaginar uma linha, ou um grande arco, os conectando no céu. Só que isso não significa que eles se alinharam…
Os planetas se movem em grandes trajetórias mais ou menos circulares (na verdade, são elipses) em torno do Sol. Chamamos esses caminhos de órbitas. Todos os oito planetas do Sistema Solar têm suas órbitas praticamente num mesmo plano. A linha que liga a Terra ao Sol está contida nesse plano, que recebe o curioso nome de eclíptica (termo de origem grega para o “lugar onde ocorrem os eclipses”).
Então, vistos aqui da Terra, os planetas sempre vão aparecer em algum lugar ao longo da eclíptica. Essa linha invisível é como uma representação bidimensional do espaço em três dimensões onde estão as órbitas de todos os planetas do Sistema Solar.
Como os planetas sempre viajam ao longo da eclíptica, sempre que houver mais de um visível lá em cima ele vai aparecer para nós alinhado com outro planeta qualquer (ou com a Lua e o Sol). Mas se você voasse “sobre” o Sistema Solar e olhasse “para baixo” não notaria esse alinhamento.

A LINHA SUMIU De um ponto de vista que visualize as órbitas dos planetas fica fácil perceber que o alinhamento que vemos em nosso céu é apenas aparente. Gravuras originais de EarthSky.org.
Alinhamento real versus aparente
Mas e se os planetas ficassem todos de um mesmo lado do Sol, formando uma fila? Não seria, nesse caso, um alinhamento real? Seria. Só que não vai acontecer.
Calcula-se que todos os planetas do Sistema Solar podem fazer isso uma vez a cada 396 bilhões de anos. Mas para o Sol restam “apenas” 5 bilhões de anos até que ele infle como uma gigante vermelha, engolfando Mercúrio, Vênus e bem possivelmente a Terra no processo. O Sistema Solar precisaria se manter em sua configuração atual por um tempo muito maior do que dispõe para que tal alinhamento pudesse acontecer. Não vai dar tempo.
Mas, ora, o que importa? Deixe o pessimismo de lado e essa tendência de achar sinais de desgraça em tudo e apenas aprecie os inocentes alinhamentos planetários aparentes que se formam no céu várias vezes ao longo de nossas curtas vidas. Janeiro de 2025 é uma dessas vezes.
Galeria de fotos de alinhamentos planetários
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