Era uma vez um astrônomo amador chamado Edwin Holmes, que vivia na Inglaterra do século XIX. Como todo astrônomo, ele gostava de olhar o céu, e na noite de 6 de novembro de 1892, Holmes fez uma descoberta. Era um cometa, que aumentava seu brilho à medida que se aproximava do Sol. Mas até aí nenhuma grande novidade.
Cometas são pequenos blocos de rocha e gelo que vagam pelo interior do Sistema Solar. Quando um deles se aproxima do Sol, o calor e a radiação provocam a evaporação de um manto de partículas e gases ao seu redor, chamado coma.
Aquecida, a coma se infla e dela surgem as caudas (pelo menos uma cauda de poeira e uma de gás), que se estendem por milhões de quilômetros pelo espaço – literalmente.
Depois que o cometa se afasta, o calor diminui e a coma se recolhe. A cauda então desaparece e o cometa praticamente some junto com ela, diminuindo enormemente seu brilho.
A olho nu
Mas não foi bem isso o que aconteceu com o cometa que Holmes observou pela primeira vez naquele ano. Depois que o astro começou a se afastar do Sol, realmente enfraqueceu. Mas então, uns dois meses depois, o cometa exibiu um súbito e inesperado aumento de brilho.
Ninguém soube explicar o motivo. Tampouco o cometa fez aquilo de novo. De período orbital curto, a cada 6,8 anos ele volta a se aproximar do Sol, mas não brilha muito e fica ainda mais fraco quando se afasta. Ninguém ligava mais para ele.
O COMETA 17P Holmes nunca se aproxima muito. Seu periélio fica a mais de duas vezes a distância da Terra ao Sol (2,053 UA), enquanto o afélio fica aproximadamente à mesma distância da órbita de Júpiter, porém bem longe do plano da eclíptica (19°). O Small-Body Database oferece um diagrama interativo da órbita desse cometa (em inglês).
Passaram-se 115 anos de idas e vindas sem graça do cometa Holmes (o astro recebeu o nome de seu descobridor, é claro). Até que, em maio de 2007, ele voltou a se aproximar do Sol. Mas como de costume, não brilhou muito e foi um dado a mais nas estatísticas dos astrônomos.
Mas então, na noite de 23 de outubro de 2007, quando já estava a mais de 365 milhões de quilômetros do astro-rei (2,4 vezes a distância da Terra ao Sol) algo realmente extraordinário aconteceu. O cometa acendeu como um farol, aumentando seu brilho 400 mil vezes em apenas algumas horas.
Fazendo isto, de um astro que só podia ser observado através de bons telescópios o cometa Holmes ficou visível a olho nu. Da Terra, via-se claramente uma “nova estrelinha” na direção da constelação de Perseu.
Universo maravilhoso
Essa incrível erupção desencadeou algo ainda mais extraordinário. Ejetando material a mais de 1.800 km/h, a coma começou a inflar de forma descomunal. Não é incomum que um cometa com núcleo de poucas dezenas de quilômetros fique com uma coma do tamanho da Terra.
Mas a do Holmes está muito maior. Seu diâmetro atingiu 1,4 milhão de quilômetros no início de novembro. Com isso, o cometa Holmes igualou e ultrapassou o tamanho do Sol!
O astro-rei, é claro, continuou sendo o objeto com mais massa entre todos do nosso sistema planetário (a soma de todos os objetos do Sistema Solar não chega a 1% da massa do Sol).
A FOTO em preto e branco (dos amadores Imelda Joson e Edwin Aguirre) mostra o crescimento estarrecedor de um halo em volta do cometa em poucos dias. Em 9 de novembro de 2007 ele atingiu o tamanho do Sol (foto obtida no Mauna Kea, Havaí). As fotos do Sol e Saturno (em escala) são da ESA, NASA e Projeto Voyager.
É claro, cometas também não têm luz própria. Mas naquele momento ímpar, existiu um astro no Sistema Solar que foi maior que o próprio Sol. Ninguém soube ao certo o que aconteceu.
Provavelmente algo parecido com o que ocorreu em 1892. Talvez um fragmento do núcleo tenha se rompido, deixando à mostra gelo virgem, que aquecido, provocou o súbito aumento de brilho.
Holmes continuou o seu caminho, se afastando do Sol. Ele voltará em sete anos, quando provavelmente já terá dissipado seu halo brilhante. Assim mesmo estaremos o aguardando, ansiosos pela oportunidade de vivenciar mais uma descoberta espetacular neste maravilhoso universo em que vivemos.