Chamamos de órbita o percurso que um corpo percorre em volta de outro, geralmente sob influência gravitacional. Quando as desenhamos, muitas vezes pensamos numa circunferência, mas como não somos tão bons para traça-la à mão livre, acabamos fazendo elipses.
Que bom, porque assim acertamos em cheio! Para se preservar numa órbita circular, um astro teria que manter uma velocidade muito precisa o tempo todo. Bastaria uma alteração mínima e ele seria levado à trajetória elíptica. A órbita em forma de elipse é tão comum que virou lei científica, formulada pelo astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630).
Viajando em uma elipse, o corpo celeste varia sua velocidade e distância do astro principal. Quando a Terra está mais próxima do Sol, por exemplo, viaja mais rápido; indo mais devagar quando está mais distante. A média é equivalente à de uma órbita circular, mas sem a necessidade de um ajuste constante e preciso de velocidade, o que custa caro – e a natureza não gasta energia à toa.
O afélio da Terra
A órbita da Terra engana à primeira vista, porque é quase indistinguível de uma circunferência (veja a gravura a seguir). Mas o Universo é rigoroso: nossa órbita ao redor do Sol é mesmo uma elipse com quase 300 milhões de quilômetros em seu eixo maior, isto é, entre os pontos chamados de Afélio e Periélio.
DIFERENTE da circunferência, a elipse tem dois centros, chamados focos. Mas o Sol só precisa de um lugar para ficar, então ocupa um dos focos da elipse. O ponto da órbita que apresenta a maior distância até esse foco chama-se afélio. Na gravura, a órbita da Terra (em amarelo) é comparada com uma circunferência (em azul claro). Adaptado de Wikimedia Commons.
Afélio vem do grego aphelion, “distância de afastamento do Sol”. Junção de APO, “afastado”, com HELIOS, “sol”. É o antônimo de periélio. Quando um planeta está passando pelo afélio de sua órbita, sua distância ao Sol é a maior possível – e sua velocidade a menor.
Fica mais fácil de entender quando a órbita é uma elipse mais pronunciada, como na animação abaixo.
MAIS LONGE, MAIS DEVAGAR Numa elipse bem alongada fica fácil perceber porque a velocidade do planeta varia. Quanto mais afastado do Sol (no foco F1), menor sua velocidade. Ao se aproximar ele precisa ir mais rápido, caso contrário a força de gravidade da estrela vence, e o planeta acaba engolido por ela.
A cada ano, portanto, nosso planeta passa uma vez em cada um desses pontos. O afélio da Terra ocorre no meio do ano, embora o dia exato varie um pouco.
Este ano o afélio da Terra foi em 5 de julho às 2:06 (horário de Brasília). Nessa ocasião a velocidade do planeta em sua viagem em volta do Sol foi de 29,3 km/s (pouco mais de 105 mil km/h). Isso corresponde à distância de 152.099.968 km do Sol. Em todos os outros dias a velocidade será maior e a distância menor. Mas não muito...
Acontece que a forma exata da elipse orbital da Terra varia devido às influências gravitacionais de outros objetos planetários, particularmente a Lua. Por isso, de ano para ano, essa velocidade mínima e distância máxima (além da própria data) sofrem alterações.
Afélio e clima
Se a distância entre a Terra e o Sol fica maior em julho, então é por isso que nessa época do ano temos inverno? Não. Lembre-se que as estações do ano são opostas em cada hemisfério. Inverno ao Sul da linha do equador implica em verão ao Norte.
Se a distância ao Sol fosse a responsável pelas estações, teríamos inverno em todo o planeta quando estivéssemos mais longe do astro-rei. Além disso, como a órbita terrestre é uma elipse muito discreta (uma “circunferência perfeita”, numa olhadela rápida), a diferença entre a maior distância (que acontece no afélio) e a menor (aquela no periélio) é de apenas uns 3%.
Ou seja, se a distância média fosse de 1 metro, a Terra oscilaria apenas 3 cm para mais ou para menos. Proporcionalmente é quase nada, e é insuficiente para influenciar o ciclo das estações de forma significativa.
Ainda mais por causa da água! A proporção entre mares e terras no hemisfério Norte é, grosseiramente, uns 60/40 (60% oceanos e 40% massas de terra). Enquanto no hemisfério Sul chega em 80/20 (80% de oceanos contra apenas 20% de terra).
A água absorve calor mais lentamente que a terra. A maior quantidade de água no hemisfério Sul faz com que a temperatura não suba tanto, mesmo considerando que a Terra passa pelo periélio durante o verão desse hemisfério.
PROPORÇÃO entre mares e terras nos hemisférios Norte e Sul.
No final, a ocorrência de estações se deve à inclinação do eixo de rotação da Terra. Nosso planeta percorre sua trajetória elíptica em volta do Sol girando em volta de si mesmo inclinado em 23 graus.
Não somos os únicos, é claro. Órbitas em forma de elipse, afélio, periélio e eixos de rotação inclinados acontecem com outros planetas também. Igualzinho… Só que diferente. Afinal, só a Terra é a Terra. Carpe Diem!
+ Periélio, velocidade máxima
+ A beleza da elipse
+ Perihelion and Aphelion