Tudo começou em 31 de março de 1974, dois dias depois que a nave Mariner 10 sobrevoou o planeta Mercúrio. Foi quando seus instrumentos captaram uma emissão de radiação ultravioleta (UV) onde simplesmente “não era certo estar lá”. No dia seguinte ela se foi. Mas antes que se pensasse em falha nos instrumentos ela reapareceu vinda de outra direção.
A MARINER 10 captou misteriosas emissões de UV.
Alguns cientistas pensaram que a fonte poderia ser uma estrela. O Sol e as outras estrelas emitem UV em abundância; é este tipo de radiação que mesmo filtrada pela nossa atmosfera causa queimaduras na pele de banhistas desprevenidos.
Mas era sabido que a radiação UV não pode penetrar muito no meio interestelar e, além disso, a fonte parecia ter mudado de lugar, o que sugeria que estava próxima. Um pequeno astro, escuro e muito próximo de Mercúrio poderia estar refletindo a radiação UV do Sol para a Mariner. Teria Mercúrio uma lua?
CONCEPÇÃO artística de Mercúrio e sua lua.
Mal entendido
Calculou-se que o misterioso objeto movia-se a cerca de 4 km/s, uma velocidade razoável para um satélite. Deveria a suposta lua ser anunciada ao público?
Era tarde demais, a imprensa já sabia e alguns jornais da época publicaram empolgantes histórias sobre a misteriosa lua invisível de Mercúrio. Mas a Ciência é excitante justamente por ser real. Os cientistas não devem se deixar levar pelo desejo, tampouco são vendedores de histórias. Eles tinham de ser mais cautelosos.
Jamais se localizou a suposta lua de Mercúrio. Mas o fim desta história marcou o início de um novo capítulo para a Astronomia. Pois numa coisa os cientistas de fato se enganaram: a radiação UV não era absorvida pelo meio interestelar como eles imaginavam e os modernos instrumentos da Mariner provaram isso.
Na direção de onde provinham aquelas emissões, mas muito além do Sistema Solar, estavam poderosas fontes de UV. O mal entendido estava, afinal, resolvido.
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