Existe algo na Astronomia que não ousaríamos duvidar: nosso planeta tem uma lua. Errado! A Terra tem duas luas! Pelo menos foi o que anunciou Frederic Petit, diretor do observatório de Toulouse, na França, em 1846. E ela teria sido vista por três observadores em dois lugares distintos, na madrugada do dia 21 de março daquele ano.
Petit calculou que a órbita do nosso segundo satélite natural era uma elipse bastante alongada e que o mesmo a percorria em pouco menos que 3 horas, com um perigeu, o ponto de maior aproximação com a Terra, a 11,4 km (!?) da superfície.
Petit teve de suportar severas críticas ao apresentar estes dados numa conferência onde estavam presentes inúmeros cientistas, entre eles o matemático Le Verrier, que reclamou que seria necessário considerar a resistência do ar.
Afinal, nossa atmosfera se estende por dezenas de quilômetros e, hoje em dia, os aviões comerciais trafegam tranquilamente até mais alto que o perigeu da lua de Petit.
Os astrônomos de fato ignoraram a descoberta de Petit, e a história teria caído no esquecimento não fosse um jovem escritor francês chamado Júlio Verne, que em “Da Terra à Lua” narrou o encontro de um grupo de intrépidos aventureiros com a lua de Petit.
A LUA DE PETIT ficava numa órbita tão baixa que poderia se chocar com um avião.
O sucesso do livro fez a segunda lua e seu descobridor conhecidos pelo mundo afora. E ainda atraiu a atenção de astrônomos amadores de todos os lugares só pela aventura de reencontrá-la.
A ideia original era a de que o campo gravitacional de uma segunda lua pudesse explicar pequenos desvios observados no movimento da nossa conhecida Lua. O que significaria que o astro deveria ter vários quilômetros de diâmetro. Mas a lua de Petit era pequena demais para tanto, caso contrário não seria tão difícil encontrá-la.
Uma lua para a Lua
Em 1898 foi anunciada a descoberta de nada menos que um sistema inteiro de novas luas! Em 1969, durante a chegada dos primeiros homens à Lua, houve rumores de que os astronautas teriam finalmente visto o tão misterioso satélite, agora do lado oculto da Lua.
Um astrólogo chegou a batizá-la de Lilith e até hoje uma lua negra é usada em alguns horóscopos.
Nada disso implica que a ideia de um outro satélite natural seja absurda. A Terra pode ter uma nova lua por um curto período de tempo.
MONTAGEM fotográfica da fictícia lua por trás da Lua.
Meteoroides passando muito perto do nosso planeta, cruzando as camadas mais altas da atmosfera, podem perder velocidade e se tornar satélites efêmeros da Terra. São efêmeros porque após cada perigeu perderão mais e mais velocidade até colidirem como meteoritos.
Companheiros orbitais
Na verdade, a Terra possui pelo menos mais um companheiro em sua jornada. Descoberto em 1997 por Paul Wiegert e sua equipe, o asteroide 3753 Cruithne não é exatamente uma segunda lua, mas compartilha a órbita terrestre, seguindo uma trajetória em espiral que a faz parecer que se move em torno de nós numa órbita em forma de ferradura.
Para compreender melhor, imagine uma estrada circular com três pistas. A Terra é um grande caminhão viajando com velocidade constante na pista central e o asteroide é um carro movendo-se um pouco mais lentamente na pista externa.
Pouco antes do caminhão ultrapassar o carro este aumenta a velocidade e desvia para a pista interna. O carro então se afasta mas, sendo uma estrada circular, ele acaba sendo alcançado pelo caminhão.
Pouco antes de ser ultrapassado ele de novo desvia para a pista externa e todo o ciclo se repete.
O asteroide não ficará neste movimento para sempre, porém hoje ele é, sem dúvida, um inusitado parceiro de dança da Terra.
A ESTRANHA ÓRBITA de Cruithne em volta do sistema Terra-Lua. Animação de Paul Wiegert, Depto. de Física e Astronomia da York University, North York – Ontário, Canadá, 1997-2000.
Não é um movimento fácil de entender e uma simples figura não seria muito esclarecedora, por isso disponibilizamos uma pequena animação nesta página. Nela estão os movimentos relativos de Cruithne (ponto amarelo) e do sistema Terra-Lua (representado pela Terra, em verde).
Após umas poucas órbitas, linhas conectam Cruithne à Terra, construindo a aparente trajetória do astro do nosso ponto de vista. Repare como a órbita desse asteroide interage com a nossa. Mas não há risco de colisão: a maior aproximação de Cruithne fica a cerca de 40 vezes a distância da Lua.
+ Sistema Terra-Lua
+ A Terra sem a Lua