Em meados do século XIX alguns cientistas estavam intrigados com a estranha órbita do planeta Mercúrio, que parecia ela própria girar em torno do Sol, como se o planeta fosse uma conta dentro de um bambolê, girando na cintura de uma menina (fenômeno conhecido como “precessão do periélio”).
Em 1860 o matemático francês Urbain Le Verrier sugeriu que o problema poderia ser resolvido se fosse considerada a existência de um planeta movendo-se entre Mercúrio e o Sol. Indiretamente ele se referia a uma carta que havia recebido no ano anterior de um talentoso astrônomo amador chamado Lescarbault, que relatava ter visto um corpo celeste realizando um trânsito solar.
Diz-se que acontece um trânsito quando um astro passa na frente ao Sol. Quando a Lua transita à frente do Sol, ocorre um eclipse solar.
Mas isso porque a Lua está próxima o bastante para encobrir o astro-rei. Na maioria das vezes, os trânsitos só podem ser observados por astrônomos experientes, pois exige a delicada (e perigosa) tarefa de olhar na direção do Sol.
Somente os planetas Mercúrio e Vênus realizam trânsitos, porque suas órbitas são internas à órbita da Terra. Esses trânsitos são eventos raros e bastante aguardados, exigindo também cuidados especiais na sua observação.
Jornada para Vulcano
A PRECESSÃO do periélio do planeta Mercúrio não pode ser explicada satisfatoriamente pelas Leis de Newton.
A partir dos relatos de Lescarbault, Le Verrier estimou que a massa do suposto planeta fosse da ordem de 1/17 da massa de Mercúrio. Não era suficiente para explicar o estranho comportamento da órbita de Mercúrio.
Assim mesmo Le Verrier se apaixonou pela ideia de um planeta intra-mercuriano e o chamou de Vulcano, o deus do fogo na Mitologia grega.
Em 1860, Le Verrier mobilizou toda comunidade científica francesa para acompanhar um eclipse total do Sol. Era uma chance de observar Vulcano nas vizinhanças da estrela. Mas nada foi visto. Outros eclipses solares voltaram a acontecer, e nada.
Houve também estranhos relatos de trânsitos. Às vezes eram vários pequenos corpos que de uma só vez desfilavam na frente do Sol, fazendo Le Verrier pensar que somadas todas aquelas massas estaria o valor esperado para solucionar o problema da órbita de Mercúrio.
Relatividade
Com o tempo as buscas perderam o ritmo, mas serviram para estimular a criatividade de mentes curiosas, como a de um jovem alemão que em 1916 publicou uma nova teoria com a qual, entre outras coisas, explicava satisfatoriamente o estranho movimento da órbita de Mercúrio sem a necessidade de um planeta intra-mercuriano.
Seu nome era Albert Einstein e suas ideias ficaram conhecidas como a Teoria Geral da Relatividade. Mas ainda restava uma pergunta: o que viram, afinal, Lescarbault e outros talentosos pesquisadores? Nunca houve motivos para duvidar da confiabilidade de suas observações.
Presume-se que eles tenham visto asteroides. Naquela época ainda não se sabia da existência de asteroides que passam pelo interior da órbita da Terra, e é possível que se tenha observado o trânsito desses corpos.
Hoje se sabe que até mesmo cometas em curso de colisão com o Sol podem causar um mal-entendido, como aconteceu no início da década de 1970, quando Mercúrio voltou a despertar atenção no meio científico. Mas essa é uma outra história…
+ Uma lua para Mercúrio
+ Um estranho mundo chamado Mercúrio