Reserve um tempo para você e olhe as estrelas. Que visão magnífica é um céu estrelado! Há quem se empolgue e fique a contemplar por horas e horas. Mas então amanhece e deixamos de ver estrelas, pelo menos até a noite seguinte, certo?
Absolutamente errado. Amanhece porque surge no céu a mais importante de todas as estrelas do Universo: a nossa estrela. Cada ser vivo que nasceu ou nascerá neste mundo deve sua existência a essa anã amarela, com seus respeitáveis 4,6 bilhões de anos de idade.
Se o Sol fosse uma celebridade (para a Astronomia ele é, sem dúvida) teria um currículo impecável, uma vida só de glórias no palco celeste. Seria uma honra poder entrevistá-lo, fazer-lhe perguntas sobre seu passado luminoso – e seus planos para o futuro.
Também seria uma imensa responsabilidade, é claro. Afinal, ele falaria para a Terra. Mas já seria fabuloso apenas imaginar o que ele teria a dizer. Poderíamos começar com o tradicional, perguntando quando sua carreira de estrela começou…
A LUZ QUE ILUMINA O MUNDO Na mitologia grega, o Sol era personificado por Helius, filho dos titãs Hiperião e Teia e tendo como irmãos Aurora e Selene. Sua cabeça é coroada por uma auréola e ele circula a Terra com uma carruagem, de onde nada escapa ao seu olhar. Imagem: Apollo e Aurora, do pintor holandês Gerard de Lairesse (1671).
Entrevista do século
— Quando eu brilhei pela primeira vez — diria o magnífico astro-rei com uma voz quente. — Eu lembro que havia uma densa nebulosa. Vocês (os planetas) ainda não tinham nascido. Havia somente aquele disco de matéria girando a minha volta. Mas então eu brilhei com vigor e comecei a arrumar a casa.
— Como foi isso? Perguntaríamos com a curiosidade de uma criança.
— Eu nasci do colapso daquela nuvem de gás e poeira. Depois que me tornei uma estrela, a temperatura da nebulosa começou a cair. Os planetas vieram em seguida. O resfriamento provocou a rápida condensação do material, e isso fez surgir agregados de matéria que foram as sementes dos planetas.
— Foi assim que a Terra nasceu?
— Sim. Mas perto de mim os núcleos planetários não puderam crescer muito. Eles deram origem a Terra, que é o maior planeta rochoso a minha volta, e também Mercúrio, Vênus e Marte. Os planetas gasosos, de Júpiter a Netuno, surgiram porque a parte externa da nebulosa continha muito gelo e silicatos. Esses núcleos cresceram até atingir dez vezes mais massa que a Terra. Ficaram tão grandes que passaram a atrair o gás ao redor – e então cresceram mais ainda. Mas isso foi há muito tempo, quando eu era jovem.
— Outras estrelas brilham mais, porém têm vida curta. Qual o segredo da sua longevidade?
— É precisamente isso! O tempo de vida de uma estrela é a razão entre a energia que ela dispõe e a taxa com que ela gasta essa energia, ou seja, sua luminosidade. A luz que brilha muito se consome rápido. É que quanto mais massa tem uma estrela, mais rapidamente ela gasta sua energia, e menos tempo ela dura. Como não sou gigante, minhas reservas de hidrogênio ainda vão durar por mais 4 ou 5 bilhões de anos!
— Para nós você é um gigante!
— Obrigado! Realmente, meu volume equivale a mais de um milhão e quatrocentas Terras. E cada metro quadrado de minha superfície emite mais de 62 mil kW de energia, continuamente. São números gigantes, particularmente para vocês.
— Números astronômicos! (risos) Mas como toda essa energia é produzida? Há quem pense numa enorme quantidade de fogo…
— Não há fogo. Sou formado basicamente pelo gás hidrogênio, o elemento químico mais abundante no Universo. Uma concentração descomunal desse gás gera pressões e temperatura elevadíssimas. O bastante para produzir reações de fusão nuclear, a origem da energia de todas as estrelas.
— Mas sua forma parece tão regular! Como pode ser somente gás?
— A pressão do gás força minha expansão, como quando você assopra uma bexiga para enchê-la. Mas a força gravitacional, consequência da enorme matéria gasosa, age em sentido contrário. Minha forma estável se deve ao equilíbrio entre essas duas forças.
— Aqui na Terra dizem que você está mais quente. Outros falam que o fim do nosso mundo será quando você deixar de brilhar.
— Não estou mais quente. Vocês é que não estão dando o devido valor ao pedacinho de rocha onde vivem. Se a Terra estivesse um pouco mais perto de mim, a água seria sempre vapor. Mais longe e seria um eterno cubo de gelo. Vocês estão no lugar certo. Num maravilhoso – e único – pontinho azul que eu sempre vejo com ternura.
— Tem razão... Diríamos ao fim da entrevista. Mas ele ainda insistiria:
— Prestem muita atenção: um dia vocês se consideraram o centro do Universo. Mas nem eu sou o centro do Universo. Vivemos todos na periferia da galáxia, bem longe de qualquer lugar que possa ser chamado de “centro”.
— Vocês não podem continuar agredindo a Terra dessa maneira! Sentenciaria o astro-rei com toda sabedoria. — Eu vou continuar brilhando, os planetas vão continuar girando a minha volta. Incluindo a terceira rocha que vejo daqui. Mas se essa atitude negligente continuar, não haverá mais humanos nela. Seria uma pena. Vocês todos são pedacinhos de estrelas.
Cor | Classe espectral | Distância da Terra (km) | Luminosidade (× 1024 J/s) | Massa (× 1030 kg) | Temperatura superficial (K) | Idade (milhões de anos) |
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Amarela | G2V | 149,6 × 106 | 384,6 | 1,989 | 6.600 | 4,57 |
+ Enquanto o Sol respira
+ Do pó aos planetas