Não é fácil apanhar uma estrela. Quando risca o céu de repente, mal dá tempo de fazer um pedido. Mas vamos deixar as coisas claras: estrelas de verdade não são meteoros. Elas não mudam de lugar rapidamente ou se precipitam no chão. Estrelas de verdade, como o Sol, nunca são “cadentes”.
Estrelas são sóis distantes. Bolas de gás, sobretudo hidrogênio, brilhando com a energia de poderosas reações termonucleares que ocorrem em suas entranhas. Estrelas de verdade ficam a dezenas ou centenas de trilhões de quilômetros (exceto o Sol, que arde a 150 milhões de quilômetros da sua pele).
FICA EVIDENTE, numa fotografia de longa exposição, quando um meteoro cruza o céu. Eles são um fenômeno atmosférico, enquanto as estrelas são corpos celestes distantes.
Movimento próprio
Assim, de tão longe, esses pontinhos de luz que vemos a noite parecem fixos na abóbada celeste. Parecem… Porque mesmo as estrelas de verdade têm movimento próprio.
Não se trata do movimento de rotação da Terra, que faz com que as constelações pareçam se deslocar diante de nós, com o passar da noite. É o movimento real de cada estrela. Cada uma delas com velocidades e direções diferentes.
Muito pouco, é verdade. Uns poucos segundos de arco por ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Lua Cheia tem cerca de meio grau, ou 1800 segundos de arco. Passam-se séculos na Terra para que uma estrela se desloque o equivalente ao diâmetro de uma lua cheia.
Mas isso porque elas estão longe. Estrelas mais próximas apresentam, geralmente, movimentos maiores. Uma delas, em particular, possui um movimento próprio notável; extraordinário em termos astronômicos.
É a estrela de Barnard, que fica na constelação de Ofiúco, o serpentário. Barnard é a segunda estrela mais próxima do Sol, perdendo apenas para Alfa do Centauro. Ela foi estudada em detalhes pelo astrônomo Edward E. Barnard (1857-1923), que mediu seu rápido deslocamento no céu: cerca de dez segundos de arco por ano.
A essa taxa, em menos de dois séculos (175 anos), essa estrela terá se deslocado o equivalente a uma lua cheia. Ainda pode parecer pouco mas, do nosso ponto de vista na Terra, nenhuma estrela se move tão depressa.
Cor | Classe espectral | Distância (anos-luz) | Luminosidade (Sol=1) | Massa (Sol=1) | Temperatura superficial (K) | Idade (milhões de anos) |
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Vermelha | M4 V | 5,96 | 0,0004 | 0,17 | 3.134 | 10 |
ANÃ VERMELHA Com magnitude +9,56, a Estrela de Barnard não pode ser vista a olho nu da Terra. Ainda não.
Trocando de lugar
A velocidade aparente da Estrela de Barnard é resultado de sua trajetória atual, que a traz cada vez mais para perto do Sistema Solar – 140 quilômetros mais perto a cada segundo.
Mas nada de pânico: o que vai acontecer é que por volta do ano 11.800 a estrela de Barnard roubará a posição de Alfa do Centauro, tornando-se a mais próxima do Sol. E ainda assim estará a mais de 35 trilhões de quilômetros de Plutão, quando então irá se afastar de novo – e para sempre.
Barnard está agora a 6 anos-luz (ou 57 trilhões de quilômetros). Ela tem apenas 17% da massa do Sol e de 15% a 20% do seu diâmetro. É uma estrela velha, com o dobro da idade solar e uma coloração tipicamente avermelhada.
E se há quem confunda uma estrela de verdade com uma estrela cadente, tem gente que pensa que Barnard é um planeta gigante vermelho que está vindo destruir a Terra. Mas que você não se deixe enganar por essa história barata. Barnard é pequenina, mas é uma estrela de verdade.
Dê tempo suficiente e todas as estrelas se movem. Todas as constelações que conhecemos hoje estão alterando suas formas definitiva e continuamente. Estrelas de verdade não se deixam apanhar.
Durante a década de 1960, muitos pesquisadores aceitaram as medidas do astrônomo alemão Piet van de Kamp (1901-1995), que alegava ter detectado perturbações no movimento próprio da Estrela de Barnard, sugerindo a presença de um ou mais planetas como Júpiter ao redor dela.
Mas com o passar do tempo outros astrônomos tentaram repetir as observações sem, no entanto, conseguir confirmar a existência de qualquer planeta. Van de Kamp se recusou a aceitar o erro, e medidas posteriores feitas com o telescópio Hubble não confirmaram, mas também não descartaram os planetas da Estrela de Barnard.
A controvérsia contribuiu para a fama dessa estrela na ficção-científica – e também para sua escolha como alvo do Projeto Daedalus, um estudo conduzido entre 1973 e 1978 pela British Interplanetary Society para o primeiro voo interestelar de uma espaçonave não tripulada.
A Daedalus seria construída em órbita da Terra e teria uma massa inicial de 54 mil toneladas, sendo 50 mil só de combustível nuclear. A espaçonave teria dois estágios, o primeiro operaria por dois anos acelerando o veículo a 7,1% da velocidade da luz (ou 0,071 c), e o segundo a levaria a 0,12c em 1,8 anos de funcionamento. Depois disso, a Daedalus seguiria silenciosamente numa viagem de 46 anos até a Estrela de Barnard. O projeto nunca foi desenvolvido.
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