No mundo das celebridades, as coisas nem sempre são o que parecem. Isso vale para as estrelas do céu também. Há quem pense que não há nada mais imutável e sereno que um céu estrelado. Nada mais enganoso.
Já vimos que estrelas nascem, brilham e morrem. Algumas variam sua luz em apenas algumas semanas. Estrelas muito grandes podem explodir. E outras simplesmente derrubam a imagem de um ponto de luz solitário, revelando sistemas complexos ao olhar bisbilhoteiro de um bom telescópio.
Cabrita
Vejamos o caso de Capella, a estrela mais brilhante de Auriga, o Cocheiro. A constelação do Cocheiro representa um homem que tem na mão direita um chicote, enquanto a mão esquerda segura (em algumas ilustrações, sustenta nas costas) uma pequena cabra: é Capella, nome que significa cabrita.
CABRITA (Capella) é a estrela Alfa da constelação do Cocheiro.
Na mitologia greco-romana, Capella é Amaltéa, uma ninfa filha do rei de Creta que cuidou de Júpiter quando ele ainda era bebê e se refugiava da voracidade de seu pai, Saturno, que queria devorá-lo. Segundo outra versão, Capella é a própria cabra que amamentou Júpiter naquela ocasião.
A estrela Capella fica a cerca de 42 anos luz de distância. O Sol fica a 8 minutos-luz de nós, mas Capella é 150 vezes mais brilhante que o Sol. Ela está entre as “Dez Mais” do céu, figurando na sexta posição no ranking das mais brilhantes.
Facilmente visível a olho nu entre as constelações de Touros e Gêmeos, o pontinho de luz de Capella parece querer dizer que vemos apenas um astro. Mas é apenas um disfarce.
Capella é uma componente de um sistema formado por duas estrelas gigantes e amarelas, com massas 2,6 e 2,7 vezes a massa do Sol (uma delas é 9 vezes maior que o Sol e a outra é 12 vezes maior). Elas se movem uma em torno da outra a meros 113 milhões de km (menos que a distância da Terra ao Sol).
Cor | Classe espectral | Distância (anos-luz) | Luminosidade (Sol=1) | Massa (Sol=1) | Temperatura superficial (K) | Idade (milhões de anos) |
---|---|---|---|---|---|---|
Amarela | G1 | 42 | 78,5 | 2,7 | 5.700 | 12 |
O olhar insaciável dos astrônomos (um tipo de repórter dos palcos celestes que usa telescópios em vez de microfones) revelou que ambas percorrem uma órbita quase circular – que por sua vez é o centro de um outro binário: duas pequenas estrelas do tipo anã vermelha, muito distantes do par principal.
AS BINÁRIAS amarelas Capella, em foto do COAST, Cambridge Optical Aperture Synthesis Telescope. Clique para ampliar.
Família numerosa
Ou seja, Capella é um sistema estelar múltiplo. Como tantas celebridades, é um caso complicado. Você poderia pensar que são como dois casais, dois adultos e duas crianças bailando num imenso salão. As crianças de mãos dadas dando longas voltas em torno dos adultos, que também dançam de mãos dadas. Uma família feliz…
Mas isso é só “fachada”. Se imaginarmos um modelo em escala reduzida desse sistema, Capella A e Capella B (os adultos) seriam como duas bolas de 33 cm e 18 cm de diâmetro a 3 metros uma da outra. Já as anãs vermelhas C e D (as crianças) teriam apenas 1,8 cm de diâmetro cada, mas estariam afastadas entre si por 125 metros, e distantes nada menos que 33,5 quilômetros de Capella A e B.
Mas não para por aí. Os astrônomos conhecem outros “filhos” de Capella. Mais 5 estrelas aprisionadas pela gravidade do par principal. Talvez existam outras. Outro fato curioso: os cálculos sugerem uma zona habitável em torno de Capella A e B (também chamadas Capella Aa e Ab).
Quantos segredos essa celebridade celestial ainda está por nos revelar? Realmente, as coisas nem sempre são o que parecem. No Universo, elas são ainda mais belas e intrigantes.
+ Mira, a maravilhosa
+ Sírius, Miss Universo