A órbita da Lua não é circular. O astrônomo alemão Johannes Kepler mostrou que os corpos celestes se movem em elipses em volta de outros objetos com maior massa que eles próprios, como estrelas e planetas. À primeira vista, as elipses se apresentam de formas muito diferentes, podendo ser bastante alongadas (como as órbitas dos cometas) ou quase indistinguíveis de uma circunferência (como a órbita da Terra).
EXCENTRICIDADE significa distanciamento do centro. Nas elipses, esse é um parâmetro que nos ajuda a diferencia-las. Quanto mais perto de zero, mais a elipse se parecerá com um círculo. E à medida que a excentricidade (e) se aproxima de 1, a elipse vai se alongando, até se degenerar num segmento de reta. Descubra aqui como desenhar elipses.
Toda órbita elíptica tem um ponto de maior e de menor aproximação com o astro central. Chamamos a menor distância de perigeu (do grego peri, próximo, e gee, derivado de Terra) e a maior de apogeu.
Esses termos também recebem a denominação apsis (plural apsides). As apsides lunares não têm relação com as fases.
Apenas ocasionalmente o dia em que ocorre uma Lua Cheia coincide com o dia em que ela passa pelo perigeu, e assim, estando ligeiramente mais próxima, pode se apresentar até cerca de 30% mais brilhante que uma Lua Cheia no apogeu.
Essa Lua Cheia próxima do perigeu vem sendo chamada de “superlua”, mas esse termo simplesmente não existe na Astronomia, sendo uma denominação popular, tal qual “estrela cadente“.
Conceito vago
Na verdade, o “conceito de Superlua” é encontrado na astrologia moderna, não na Astronomia. Aparentemente foi usado pela primeira vez pelo astrólogo Richard Nolle em 1979, que arbitrariamente o definiu como “uma lua nova ou cheia que ocorre com a lua em ─ ou perto de (dentro de 90%) ─ sua maior aproximação com a Terra em uma determinada órbita (o que os cientistas chamam de ‘perigeu’)” [1].
Mas para Joe Rao, palestrante convidado do Planetário Hayden e colunista de astronomia no The New York Times e outras publicações, a definição de Nolle é bem generosa, pois permite de 4 a 6 superluas todos os anos, em média.
Mesmo assim, ninguém prestou muita atenção nisso até março de 2011, quando a Lua Cheia coincidiu com um perigeu excepcionalmente próximo (356.600 km). Foi quando o termo superlua se tornou viral.
Uma superlua é mesmo super?
Quando a Lua Cheia acontece no perigeu o satélite realmente aparece um pouco maior no céu que o normal. Mas não muito. Assumindo que “normal” se refere ao diâmetro da Lua medido na sua distância média da Terra (384.401 km), então a superlua de março de 2011, por exemplo, na verdade apareceu apenas 7,2% maior (em diâmetro aparente).
E esse aumento só seria notado se tivéssemos uma outra Lua “normal” ao lado, no céu, para compararmos as duas. Sem isso, não temos um boa referência e nossa lembrança do tamanho da última Lua Cheia pode não ser suficiente.
FORÇANDO A BARRA A Lua Cheia (à esquerda, no perigeu) é bem maior que a outra (no apogeu). Mas não há duas dessas no céu para compararmos. Além disso, geralmente a Lua Cheia acontece entre o perigeu e o apogeu. Ou seja, ela costuma ser menor que a da esquerda e maior que a da direita.
Na prática, portanto, não se nota a diferença de tamanho – exceto se apelarmos para nossas emoções (o desejo de ver maior!), em vez de uma análise puramente racional.
INFLUÊNCIA
Estudos têm mostrado que uma Lua Cheia de qualquer tipo não afeta o comportamento humano. Lua cheia (ou Nova) e superluas não causam internações hospitalares, distúrbios psiquiátricos, aumento no número de partos ou homicídios.
VERÃO AUSTRAL
A Lua parece maior no verão? Deveria. A Terra está mais próxima do Sol quando é verão no hemisfério Sul (quase no seu periélio, que acontece no início de janeiro de cada ano), o que significa que a gravidade da estrela puxa a Lua para mais perto da Terra. Devido a este efeito as maiores superluas acontecem no verão austral (inverno no hemisfério Norte).
MARÉS
A superlua pode ser capaz de aumentar ligeiramente o nível da maré, mas certamente não o bastante para causar desastres naturais. A fase da Lua Cheia implica em marés mais altas. Mas a superlua não cria uma diferença significativa. No máximo aumenta o nível médio da maré em uma polegada.
Além disso, enquanto a distância da Lua Cheia é um fator relevante para determinar o seu brilho, Joe Rao lembra que um fator ainda mais importante é o próprio Sol.
Quando a Terra está perto do periélio (ponto de sua órbita mais próximo do Sol) a Lua recebe mais luz solar do que em posições intermediárias. Inversamente, quando a Terra está perto de afélio (ponto mais distante do Sol) a Lua recebe menos luz solar do que a média.
Uma superlua excepcional pode ser até 30% mais brilhante que uma Lua Cheia próximo da data do periélio terrestre. Mas isso também corresponde a um aumento de apenas 0,28 em magnitude (a medida de brilho usada pelos astrônomos).
Superluas “de verdade”
Para não banalizar o termo, Joe Rao propõe refinar a difinição astrológica de superlua para que a Lua seja verdadeiramente “super”. Para isso, basta considerar uma aproximação com o perigeu de 99% em vez dos 90% de Noole.
Ou seja, vamos considerar apenas as luas cheias que aconteçam quando a distância lunar estiver entre 356.372 e 356.725 quilômetros. Dessa forma, de 4 a 6 superluas todos os anos passaríamos a eventos bem mais raros – e significativos, como mostra a tabela abaixo [2].
Uma superlua por mês
Quando a Lua Cheia nasce, mesmo que não seja numa noite de superlua, geralmente a vemos surpreendentemente grande. Ali, pairando sobre o horizonte, ela é realmente “super”. Mas tudo não passa de uma ilusão.
Uma ilusão poderosa, diga-se. Que nos impressiona a cada lunação. Uma superlua no alto do céu nunca terá o mesmo efeito. Ainda que esteja surgindo no horizonte, a superlua apenas incrementará um pouco a já impressionante ilusão lunar.
A minilua
E se a Lua Cheia pode coincidir com um perigeu, então é esperado que também possa cair no apogeu lunar, quando então teremos uma Lua Cheia de tamanho inferior ao “normal” – ou uma minilua.
Embora, por motivos óbvios, isso não vá atrair a atenção do grande público, podemos usar a regra modificada de Joe Rao para identifica-las também. Nesse caso, seriam luas cheias que tivessem uma aproximação de 99% com o apogeu lunar.
+ A ilusão lunar
+ A beleza da elipse
+ Moon at Perigee and Apogee: 2001 to 2100