Como nos filmes de ficção científica, nosso planeta está protegido por um campo de força. Ele nos poupa das furiosas tempestades solares, defletindo para longe a maior parte das energéticas partículas geradas pelo Sol, o poderoso astro-rei do Sistema Solar.
Mas esse campo também pode ser uma “faca de dois gumes”, podendo danificar os sensíveis instrumentos de nossas próprias naves espaciais, caso ousemos ignorá-lo.
A maioria das pessoas nem sabe que ele existe, mas indiretamente já percebeu o seu poder. É por causa dele que a agulha imantada de uma bússola insiste em apontar sempre para uma mesma direção. Chamamos esse campo de “magnetosfera” ─ e sem ele a vida tal qual se vê à nossa volta não existiria.
Ímã gigante
A Terra apresenta um campo magnético como se tivesse um imenso ímã em seu interior. Mas atente para o fato de que não é ele quem nos faz manter os pés presos ao chão. Isso se deve a outro campo, o gravitacional, cuja natureza difere do magnético.
SIMPLIFICANDO Tudo se passa como se no interior da Terra existisse um enorme ímã. A ideia geral funciona mas, na verdade, a natureza é um tanto mais intrincanda que isso.
O campo magnético da Terra está invertido em relação aos polos geográficos. O polo norte magnético fica na Antártida e o polo sul magnético na região ártica canadense.
O magnetismo terrestre existe porque o núcleo externo do nosso planeta (que corresponde a 55% do raio da Terra) é líquido, altamente condutor e ainda participa da rotação da Terra, apresentando movimentos de convecção (subindo e descendo, como água num recipiente fervendo).
Outros astros também têm campos magnéticos, como Júpiter, Saturno e o Sol. O da Terra é o mais forte entre os planetas com constituição rochosa (entre eles Mercúrio, Vênus, Marte e Plutão).
GRANDE E MÓVEL O núcleo externo da Terra possui ferro em estado líquido. Como é condutor e participa da rotação da Terra, ele gera correntes elétricas que induzem o aparecimento de um campo magnético ao redor do planeta.
Fraquezas
Infelizmente, porém, nosso campo de força não é tão regular ou estático como pode sugerir a analogia com uma barra imantada. Observamos variações locais, provocadas por diferenças nas propriedades magnéticas das rochas que formam a crosta terrestre e pela concentração de minérios ferromagnéticos em certas regiões.
Há também variações no tempo. A intensidade do campo magnético terrestre parece estar diminuindo. Estudos apontam para uma redução de 10% nos últimos 150 anos – o que faria ele desaparecer ou iniciar uma reversão em 1.500 anos.
Além disso, a magnetosfera interage fortemente com o vento solar (uma torrente de partículas atômicas – não de ar – emitidas constantemente pelo Sol). As partículas desse “vento” espiralam ao longo das linhas de força do campo terrestre, movendo-se alternadamente entre os polos norte e sul magnéticos.
Fazendo isso elas constituem duas regiões, uma entre a Terra e o Sol e outra do lado oposto, conhecidas como Cinturão de Van Allen.
Essas regiões são deformadas pelas tempestades solares, que comprimem as linhas de campo magnético do lado do Sol e estendem as do lado oposto por milhares de quilômetros no espaço. Toda a magnetosfera lembra uma gota, gigantesca e invisível, envolvendo a Terra (veja o vídeo a seguir).
Auroras tropicais
Uma pequena parte da radiação que passa pelo cinturão é canalizada até bem próximo da superfície terrestre através dos polos magnéticos. Quando atingem as camadas mais elevadas da atmosfera as partículas produzem o hipnotizante efeito das auroras boreais e austrais.
O campo magnético da Terra pode inverter sua polaridade, mas ao contrário do que sugere o cinema, essas reversões levam alguns milhares de anos para se completar.
Enquanto isso, as linhas do campo próximas à superfície se torcem e se enroscam, produzindo polos magnéticos em lugares pouco prováveis. Um polo magnético sul poderia emergir sob o Brasil, por exemplo, e um polo norte na Austrália.
Estranho? Sim, mas ainda seria um campo magnético, e continuaria nos protegendo das radiações. Além do mais, poderíamos nos sentar na praia, em noites cálidas de verão, e contemplar auroras num país tropical (hoje elas só aparecem nas altas latitudes, para além dos 60º acima e abaixo da linha do equador).
Pensando bem, até que uma pequena mudança no campo não seria má ideia.
PODERIA SER AQUI Uma rara aurora fotografa ao sul da Inglaterra. Se um polo magnético emergisse no Brasil essa cena se tornaria corriqueira por aqui. Foto de Oystein Lunde. Clique na imagem para ampliar.