O céu está limpo. As estrelas, mesmo as mais fracas, brilham com vigor. Você está longe da cidade. De repente, uma estria luminosa cruza o céu velozmente, talvez numa fração de segundo.
Você espera ouvir um estrondo vindo de não muito longe, mas antes que possa apurar os ouvidos, outra ainda mais bela surge. Não demora muito e duas aparecem de uma só vez. Parecem vir de um mesmo ponto do céu. O espetáculo dura horas.
Todos os anos acontecem as chuvas de meteoros. A maioria delas ocorre por efeito de passagens sucessivas de cometas nas proximidades da Terra. Os detritos cometários vão se alastrando por toda a extensão da órbita do cometa, bem como transversalmente a ela (veja a gravura abaixo).
PEDRAS NO CAMINHO Uma corrente de detritos deixada por um cometa é interceptada pela Terra numa certa época do ano. Essa é uma das formas mais comuns pela qual se formam as chuvas de meteoros.
A Terra, porém, não atravessa todos os enxames de fragmentos deixados pelos cometas. As chuvas de meteoros ocorrem apenas nos poucos casos em que o nosso planeta intercepta esses detritos no espaço, ao longo de sua órbita em torno do Sol. Isso normalmente ocorre em dias específicos.
Por que “chuva de meteoros”?
Todas as noites podemos observar meteoros esporádicos. O termo “chuva” se aplica quando observamos vários meteoros num certo intervalo de tempo, o que permite deduzir uma taxa horária, ou seja, a quantidade de meteoros que contamos por hora, em média. Além disso, a maioria deles parece oriunda de um certo local do céu, que chamamos radiante. Normalmente as chuvas de meteoros recebem os nomes das constelações onde estão os radiantes.
Mas o radiante é apenas um efeito de perspectiva. Na verdade, as partículas penetram na atmosfera terrestre em todas as direções. O radiante indica a tangente da órbita do enxame de detritos cometários que originou a chuva. O traço luminoso, característico dos meteoros, deve-se principalmente ao aquecimento do material que o constitui e a luminescência do ar atmosférico.
A seguir, as principais chuvas de meteoros do ano. Na tabela, a Data se refere ao dia do pico (o máximo) da chuva; Taxa Horária é a quantidade de meteoros esperada por hora e a coluna % Lua ilum se refere a quanto da face lunar estará iluminada (quanto mais perto de 100, mais difícil fica perceber os meteoros).
Data | Nome da chuva | Taxa horária | % Lua ilum. |
---|---|---|---|
04/01/2024 | Quadrantids | 80 | 43 |
11/04/2024 | Virginids | 5 | 13 |
21/04/2024 | Lyrids | 12 | 96 |
27/04/2024 | alpha-Scorpiids | 5 | 85 |
04/05/2024 | eta-Aquarids | 35 | 15 |
12/05/2024 | alpha-Scorpiids | 5 | 25 |
09/06/2024 | Ophiuchids | 5 | 13 |
19/06/2024 | Ophiuchids | 5 | 95 |
07/07/2024 | Capricornids | 5 | 04 |
14/07/2024 | Capricornids | 5 | 59 |
20/07/2024 | alpha-Cygnids | 5 | 99 |
25/07/2024 | Capricornids | 5 | 75 |
28/07/2024 | delta-Aquarids | 20 | 42 |
30/07/2024 | Piscis Australids | ?? | -30° |
01/08/2024 | alpha-Capricornids | 5 | 07 |
05/08/2024 | iota-Aquarids | 8 | 02 |
12/08/2024 | Perseids | 75 | 52 |
20/08/2024 | alpha-Cygnids | 5 | 98 |
07/09/2024 | Piscids | 10 | 19 |
20/09/2024 | Piscids | 5 | 89 |
12/10/2024 | Piscids | ?? | 72 |
21/10/2024 | Orionids | 25 | 75 |
02/11/2024 | Taurids | 8 | 02 |
17/11/2024 | Leonids | 10 | 94 |
08/12/2024 | Puppids-Velids | 15 | 53 |
13/12/2024 | Geminids | 75 | 97 |
22/12/2024 | Ursids | 5 | 51 |
25/12/2024 | Puppids-Velids | 15 | 24 |
Como acontecem?
Visualize em três dimensões algumas das chuvas de meteoros mais famosas. Escolha pelo nome, aproxime, gire e analise a compacidade e velocidade dos fragmentos entre as órbitas dos planetas.
Povos antigos acreditavam que os meteoros eram estrelas que se moviam rapidamente, ou mesmo caíam sobre a Terra, por isso até hoje eles são popularmente conhecidos como estrelas cadentes.
O CÉU ESTÁ CAINDO! Raras vezes uma chuva de meteoros pode ser realmente espetacular. Foi o caso da Leonídas de 13 de novembro de 1833 sobre a América do Norte.
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Meteoro e meteorito
Quando se observa somente o traço luminoso no céu diz-se meteoro. Porém, quando o fragmento chega a atingir a superfície trata-se de um meteorito. Um meteoro ou meteorito em potencial, que ainda vaga pelo espaço, recebe a denominação meteoroide.
A maioria dos meteoroides possui ferro e silício, entre outros elementos. Dependendo de sua densidade, velocidade e ângulo de penetração, um fragmento do tamanho de um punho já é o bastante para atravessar toda a atmosfera e chocar-se contra o solo.
Meteoritos são quentes?
Faz sentido pensar que os meteoroides são aquecidos pela fricção com o ar quando penetram na atmosfera terrestre. Faz sentido, mas está errado.
Pense do seguinte modo: as pastilhas cerâmicas de um ônibus espacial são extremamente delicadas. Elas esmigalhariam facilmente com a pressão de seus dedos. Se a fricção com o ar as aquecesse tanto, elas se desintegrariam e não poderiam proteger o ônibus espacial.
O ar se aquece e se torna incandescente. Repare que isso não é fricção. O ar não está em contato com a partícula (entenda partícula como o objeto em queda e meteoro como todo o fenômeno atmosférico).
A superfície do meteoroide derrete com o calor do gás comprimido em frente a ele, num processo chamado ablação. A alta velocidade produz calor e luz, mas essa energia dissipada diminui também sua velocidade. Quando ela fica abaixo da velocidade do som a onda de choque se acaba, o calor e a ablação também. Agora o meteorito cai mais lentamente, mas em geral ainda está na alta atmosfera.
Bolas de fogo
Quentes mesmo são as bolas de fogo. Quando alguém vê uma realmente grande no céu pensa em muita coisa, menos em fazer um pedido… A não ser de socorro. Clique no link e descubra mais!
Leva vários minutos até que ele finalmente atinja o chão, e enquanto cai a rocha esfria ainda mais. Lembre-se de que ela estava no espaço e seu núcleo ainda é bastante frio. Além disso, a porção derretida já foi perdida durante o início da queda.
O resultado de tudo isso é que a maioria dos meteoritos estão bem frios quando atingem o chão. Alguns já foram encontrados cobertos de gelo imediatamente após sua queda. A exceção fica por conta dos grandes meteoritos, é claro. Nesse caso o impacto com o solo dissipa grande quantidade de calor, que pode permanecer no local por muitas horas.
Mais de 17.000 meteoritos caem na Terra a cada ano, a maioria nas baixas latitudes (tropical e subtropical). Mas muitos acabam sendo encontrados na Antártida, simplesmente porque rochas escuras são mais fáceis de notar em um fundo branco. Imagem: Antarctic research for meteorites program / Katerine Joy.
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