Se você quiser, pode pegar seu telefone e falar com alguém em outro continente agora mesmo. Se tiver um equipamento de rádio amador, pode sintonizar as conversas dos astronautas em órbita. Sinais de rádio vindo da nave espacial mais longínqua alcançam a Terra neste instante, depois de mais de 18 horas viajando a velocidade da luz.
Nada disso é realmente espantoso – hoje. Nós vivemos na era da informação. Mas não chegamos aqui sozinhos. De tempos em tempos nascem pessoas extraordinárias, que produzem saltos evolutivos marcantes no conhecimento humano. Não raras vezes eles são incompreendidos em seu pioneirismo.
Nasce um inventor
Certa vez, no Brasil de 1861, nasceu um deles. Roberto Landell de Moura cursou a Escola Politécnica do Rio de Janeiro antes de ir para Roma, onde se formou em Teologia e foi ordenado sacerdote em 1886.
Apaixonado por física e eletricidade, manteve longos diálogos científicos com D. Pedro II, que logo seria deposto por um golpe militar. O Padre Landell começou a fazer experiências em 1892, no interior de São Paulo e também na capital, onde conseguiu transmitir sinais com um sistema de telefonia sem fio entre a Avenida Paulista e o Alto de Santana, naquela que pode ter sido a primeira radiotransmissão da história.
O PADRE LANDELL nasceu em Porto Alegre, RS, no dia 21 de janeiro de 1861 e faleceu na mesma cidade em 30 de junho de 1928.
Na verdade ele transmitia a voz humana por meio de dois equipamentos de sua autoria. Um deles era um transmissor de ondas eletromecânico. O outro utilizava a luz como onda portadora da voz, que era captada no ponto de destino por uma parabólica.
O Padre Landell inventou a válvula de três polos – o triodo – com a qual um sinal elétrico pode ser modulado e transmitido por longas distâncias, sem fios. Além disso, por também utilizar a luz para transportar informação, ele foi um dos precursores das fibras ópticas.
RÉPLICA DO TRANSMISSOR DE ONDAS do Padre Landell.
Créditos: Marco Aurélio Cardoso Moura.
Coisas mais importantes
Mas não no seu tempo. Parte significativa da população e das autoridades da época o considerava um herege, feiticeiro e louco. Seu laboratório foi destruído por vândalos e seus superiores religiosos o proibiram de executar experimentos.
Para fugir à perseguição, Landell viajou aos Estados Unidos, onde conseguiu patentear três inventos originais, um “transmissor de ondas” (o precursor do rádio), um telefone e um telégrafo sem fio. Voltou para o Brasil em seguida, mas não conseguiu apoio algum.
Chegou a enviar uma carta ao presidente Rodrigues Alves solicitando dois navios da Marinha para demonstrar a comunicação de longa distância.
Na Itália, Guglielmo Marconi fez um pedido semelhante e recebeu uma esquadra inteira. Marconi ganhou o Nobel de Física em 1909, mesmo sem ter inventado nenhum componente em particular (ele usava dispositivos já existentes).
No Brasil, conta-se que um assessor de Rodrigues Alves perguntou ao Padre Landell a que distância as embarcações deveriam ficar da costa, para realização do experimento. Ele respondeu: — A quantas milhas quiser, pois meus aparelhos podem funcionar a qualquer distância e poderão servir, no futuro, para comunicações interplanetárias.
Devem ter rido dele, pois seu pedido foi arquivado sob alegação de que a Marinha tinha “coisas mais importantes a fazer”. Landell faleceu em 1928, sem mérito, sem reconhecimento. Muito antes do primeiro satélite artificial. As comunicações interplanetárias de hoje insistem em lembrar a sua visão de vanguarda.
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