De um lado havia um grande desconforto em relação ao regime imperial no Brasil. De outro havia o positivismo, uma corrente de pensamento fundada na França por Auguste Comte (1798-1857) que foi mais que um sistema filosófico, propondo uma nova concepção do mundo, uma nova classificação das ciências e um programa político de construção.
O positivismo, apesar de afirmar que o método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento, acabou exercendo um fascínio muito mais próximo da religião, tendo excelente penetração em muitos países, sobretudo no Brasil. E foi neste cenário, do fim do século XIX, que surgiu a nova bandeira republicana.
Um reino por uma bandeira
A república instalou-se rápido. De 15 de novembro de 1889 bastariam 15 meses para ser aceita em praticamente todo o país. Interrompendo por quatro dias a sequência entre a bandeira imperial de 1822 e a republicana de 1889 surgiu, por meios não oficiais, aquela que ficaria conhecida como “Bandeira Provisória da República”.
Possuía treze listras alternadas com duas cores e uma cantoneira com estrelas em número equivalente aos Estados Federados. Uma “cópia servil do pavilhão da república americana”, segundo declarou o escritor positivista Miguel Lemos (1854-1917). Esta bandeira nem chegou a ser utilizada pelas Forças Armadas, e mesmo sem originalidade, ao conservar o verde e amarelo das cores imperiais, manteve aproximação com o regime a qual acabavam de romper.
A BANDEIRA PROVISÓRIA do Clube Republicano Lopes Trovão, que copiava a americana, teve uma vida curta: apenas quatro dias, entre 15 e 19 de novembro de 1889. Clique na imagem para ampliar.
O projeto de Teixeira Mendes
Uma nova bandeira republicana foi idealizada por Raimundo Teixeira Mendes, com a colaboração de Miguel Lemos e do Professor catedrático em Astronomia Manuel Pereira Reis, sendo o desenho executado por Décio Vilares.
Eles insistiram numa “fuga positivista a qualquer imitação americana”, preferindo fixar-se na França. A divisa “Ordem e Progresso” por si só já lembraria a França. Sua origem foi o lema positivista de Auguste Comte: “o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim“.
Para atrair a simpatia – e garantir aprovação – Teixeira Mendes e Miguel Lemos pretendiam fazer entender que o criador da bandeira havia sido o General Benjamim Constant (1836-1891). Mas ele foi pouco mais que um intermediário entre os autores do projeto e o Governo Provisório. Constant apenas sugeriu destacar a constelação do Cruzeiro do Sul na bandeira — o que foi feito.
O Decreto Nº4, de 19 de novembro de 1889, estabeleceu as diretrizes para a nova bandeira, armas e selos nacionais. A primeira bandeira republicana foi bordada por D. Flora Simas de Carvalho.
Para entender a bandeira
A bandeira republicana, afinal, não rompeu definitivamente com o Império. O retângulo e o losango permaneceram e com as mesmas tonalidades da bandeira imperial.
O círculo central em azul, no decreto simplesmente definido como “esfera”, é um antigo emblema usado pelos romanos e que também aparece na bandeira do Principado do Brasil instituída por D. João IV, onde já constava, inclusive, a faixa no sentido descendente.
Tal faixa conferiu ao círculo a perspectiva esférica e permitiu a inscrição da legenda “Ordem e Progresso”. Continue descobrindo mais sobre a bandeira do Brasil nas próximas páginas desta seção.