Tem um bule de chá no céu. E também uma balança, uma bússola, um relógio, uma mesa… Além de vários outros objetos, pessoas a animais. São as constelações. A Astronomia moderna reconhece 88 delas, mas isso é uma convenção para facilitar o estudo do céu em todo o mundo.
Nada impede que você mesmo una os pontinhos de luz da noite e crie suas próprias figuras. Só depende da sua imaginação – e de uma boa visão do firmamento (convenhamos, essa é a parte mais difícil para nós, que vivemos mergulhados nas luzes das cidades).
As estrelas estão a diferentes distâncias, mas não é fácil perceber isso. Tudo se passa como se o céu noturno fosse o teto de um grande estádio. Um teto cheio de furinhos, um pouco maiores, um pouco menores, por onde passa luz. As estrelas são essas luzes e as constelações, reuniões delas.
NOSSOS OLHOS fornecem uma visão tridimensional do mundo. Mas não somos capazes de perceber profundidade além de certa distância. É por isso que vemos uma abóbada celeste.
Asterismo
No entanto, como construir constelações é um processo muito particular, podemos enxergar formas familiares dentro de uma constelação conhecida. São os asterismos.
Quem nunca ouviu falar das Três Marias? Só que não existe uma constelação com esse nome. Essas três estrelas são um asterismo, ou seja, parte de uma constelação. No caso, a cintura do caçador Órion, uma das 88 constelações “oficiais”.
Um asterismo menos popular, porém fácil de localizar no céu, é o Bule de Chá, que integra a constelação de Sagitário – um ser mítico, metade homem, metade cavalo e dotado de grande sabedoria. Sagitário é um centauro chamado Quirão (ou Quíron), foi ele quem se encarregou da educação de vários príncipes e heróis da mitologia greco-romana, como Aquiles, Ulisses e Jasão.
Mas não se confunda. Sagitário é bem mais antiga que a constelação do Centauro, que fica no hemisfério celeste austral, perto do Cruzeiro do Sul. De origem provavelmente suméria, para babilônios, persas e egípcios, Sagitário era um deus arqueiro com cabeça e busto humano num corpo de cavalo.
CENTAUROS NÃO USAM ARCOS Representação mitológica do Sagitário (à esquerda) e do Centauro. Fonte: Uranographia, de Johannes Hevelius (1690).
Visível da Irlanda do Norte até o polo Sul, é por entre as estrelas de Sagitário que podemos ver o centro da Via Láctea, a nossa galáxia. Lá reside um enorme buraco negro, um objeto tão denso e tão compacto que suga tudo ao seu redor, incluindo a luz, por isso é negro.
Mas o que fica realmente evidente na constelação do Sagitário é a figura completa de um bule, com alça, bico e tampa (Figura acima). Esse é um asterismo tão antigo quanto a própria civilização ocidental.
Localizando Sagitário
Assim como para encontrar um país num mapa é preciso criar referências com países vizinhos, previamente conhecidos, para localizar uma nova constelação é preciso partir de pontos mais familiares no céu.
Infelizmente, as Três Marias não são uma boa referência para localizar a constelação do Sagitário (tampouco seriam visíveis no começo da noite antes do verão).
No início do mês de outubro, por volta das 19 horas (no Brasil), Sagitário já está bem alto no céu, sempre vizinho da brilhante estrela vermelha Antares, de Escorpião.
Ao telescópio, Sagitário é um espetáculo que podemos passar horas observando. Cheio de nebulosas, estrelas duplas e aglomerados estelares. Melhor ter a mão um chá quente para ajudar a enfrentar o frio e a solitude da noite. O bule já está disponível. O chá é com as estrelas.
+ Mulheres celestiais
+ O círculo dos animais