Entre 1969 e 1972, doze pessoas estiveram na Lua – nenhuma mulher. Foi a primeira e última vez que isso aconteceu. Os próximos seres humanos a pisar na Lua e também em Marte, em viagens previstas para as décadas de 2020 e 2030, certamente terão a presença de mulheres nas tripulações – que serão também multinacionais.
O empreendimento de uma viagem espacial há algum tempo deixou de ser mera disputa entre nações poderosas, passando ao terreno da cooperação, até por uma questão de necessidade (leia-se redução de custos).
Valentina
É claro que nem sempre foi assim. A primeira pessoa do sexo feminino a ir ao espaço foi uma garota soviética de 26 anos que atendia pelo sugestivo nome de Valentina. Naturalmente, naqueles primeiros anos de Guerra Fria, ela não era militar. Trabalhava numa fábrica têxtil e participava de um clube amador de paraquedismo.
Depois do histórico voo de Gagarin em 1961, o visionário Sergei Korolev, talvez o maior mentor do programa espacial russo, teve a ideia de enviar uma mulher ao espaço. Valentina Vladimirovna Tereshkova e mais outras quatro jovens foram selecionadas para um rigoroso treinamento, que incluía horas de centrífuga, testes de isolamento, voos no jato MIG 15, mais de 120 saltos de paraquedas e exaustivas aulas de engenharia espacial.
Assim mesmo elas não foram integradas ao corpo de cosmonautas na mesma condição que seus pares do sexo masculino. Na verdade, o primeiro voo espacial de uma mulher só aconteceu por propaganda – e foi o líder soviético Nikita Khrushchov em pessoa quem escolheu Valentina.
No dia 16 junho de 1963 ela voou na apertada cápsula Vostok 6, tornando-se ao mesmo tempo a primeira mulher e a primeira pessoa civil no espaço. Foram 48 voltas em quase três dias em órbita da Terra (mais do que a soma de todos os voos do Projeto Mercury).
Não lhe foi permitido ter o controle manual da nave, e por pouco Valentina não ficou para sempre no espaço. É que aconteceu um erro no programa de voo, o que levou a Vostok a se afastar da Terra a cada órbita, em vez de se aproximar. A falha só foi sanada no segundo dia pelos controladores em Moscou, e Valentina finalmente pode regressar em segurança.
Universo feminino
As primeiras astronautas americanas foram treinadas na mesma década para um voo na Mercury 13, que no entanto nunca aconteceu.
Passariam quase 20 anos até o voo orbital da segunda mulher. E mais uma vez ela veio da URSS. Era Svetlana Savitskaya, que subiu a bordo da Estação Espacial Salyut 7 em 19 de agosto de 1982.
No ano seguinte os americanos finalmente tiveram sua pioneira. Sally Kristen Ride fez parte da tripulação do ônibus espacial Challenger em 18 de junho de 1983. Mais de uma dúzia de mulheres voariam nessas naves espaciais reutilizáveis depois de Sally.
Ela mesma faria outro voo no Challenger, em 1984, tornando-se a primeira mulher a ir ao espaço duas vezes. Nesse voo, outro feito: a primeira vez que duas mulheres voaram juntas: Sally Ride e Kathryn Sullivan.
Porém, em 1986, aconteceu o inevitável. Como a essa altura a profissão de astronauta já estava integrada ao universo feminino, Judith Resnik e Sharon McAuliffe estavam a bordo do fatídico voo do Challenger de 28 de fevereiro de 1986, quando todos os sete tripulantes morreram. Sharon era também a primeira professora a ir ao espaço.
Para Marte e além
Mas elas não se deixaram abater. Em 1995, Eileen Marie Collins tornou-se a primeira mulher a pilotar um ônibus espacial. Ela mesma seria comandante quatro anos depois. A Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) recebeu sua primeira tripulante em 2001. Era a astronauta Susan Jane Helms, que permaneceu 165 dias no espaço.
O primeiro profissional de ciências a residir na ISS também foi uma mulher. A bioquímica Dra. Peggy Whitson ainda teve o privilégio de passar mais de quatro horas em atividades extra veiculares (EVA, em inglês), popularmente chamados de “passeios espaciais”, em que o tripulante trabalha do lado de fora da estação.
TRABALHANDO JUNTOS Os astronautas Linda Godwin (no alto) e Daniel Tani ocupados do lado de fora do ônibus espacial Endeavour durante uma EVA em 10 de dezembro de 2001.
Apesar de terem sido passados para trás em número, as mulheres russas continuaram batendo recordes. Quem mais tempo ficou em órbita foi Yelena Kondakova. Ela viveu 178 dias no espaço, boa parte dos quais a bordo da saudosa estação orbital Mir.
A propósito, Valentina ainda está viva e bem de saúde. Completou 70 anos em 2007 e confessou que, se tivesse dinheiro, voaria outra vez ao espaço como turista. E aceitaria também uma viagem até Marte – ainda que fosse só de ida.
Ela não irá, mas depois dela homens e mulheres vão caminhar sempre juntos – como deve ser – na mais fascinante das aventuras humanas, a conquista do espaço.
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